«Obteve tudo aquilo que
queria/ desta vida, apesar de tudo?/ Sim./ E que coisa queria?/ Poder
dizer-me amado, sentir-me/ amado na Terra.»
Morreu aos 50 anos, a 2 de agosto de
1988 em Port Angeles (Washington), o escritor Raymond Carver. Estes são
os seus últimos versos, e pensei propô-los neste dia dedicado pela
liturgia a S. João evangelista, ele que no seu Evangelho nos deixou as
palavras mais intensas de Cristo sobre o amor e que na sua Primeira
Carta cunhou a célebre definição: “Deus é amor».
Carver retrata de maneira muito simples e
transparente a verdadeira plenitude da vida que não é só a de amar mas
de ser amado. E este último é um dom e uma graça, porque o amor não pode
ser imposto por obrigação, mas é uma flor que a alma pode fazer
despontar.
Infelizes são, por isso, aqueles que
durante toda a vida não sabem amar e não são amados. É verdade que pode
também acontecer que alguém ama e não seja correspondido, mas ter amado é
já por si recompensa. Há, porém, pessoas que se encerram na sua
carapaça e consideram esse isolamento uma forma de quietude e
autodefesa.
No entanto devemos, na verdade,
reconhecer que na extensão dos palácios das nossas cidades há legiões de
pessoas de quem ninguém pensa. Nestes dias de festa é ainda mais
lancinante a ferida da solidão, a amargura do abandono, o silêncio do
telefone, a ausência de um sorriso ou de um desejo.
Se é verdade que ser amado pode fazer-te
dizer, como ao poeta americano, que a tua vida foi conseguida, o não o
ser é o sinal acre de um fracasso. Cada cristão deveria, então, tomar a
cargo pelo menos uma pessoa que não é amada e está isolada.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]
IMISSIO
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