Começa no próximo domingo, 3 de dezembro (mais precisamente nas
missas vespertinas de sábado e, neste dia, na liturgia das horas de
Vésperas), o Advento, o tempo forte do ano litúrgico que prepara o
Natal.
O primeiro domingo do Advento abre o novo ano litúrgico. No rito
romano são quatro os domingos do Advento, que no rito ambrosiano, em
Milão, já começou a 12 de novembro.
«Um dos temas mais sugestivos do tempo do Advento» é a «visita
do Senhor à humanidade», explicou o ano passado o papa Francisco no seu
primeiro Angelus do Advento, na Praça de S. Pedro. E convidou à
«sobriedade, a não ser dominado pelas coisas deste mundo, pelas
realidades materiais». E numa das homilias durante a missa matutina na
casa de Santa Marta, Francisco indicou que «a graça que nós queremos no
Advento»: «caminhar e andar ao encontro do Senhor», ou seja, «um tempo
para não se estar parado».
A liturgia
A cor dos paramentos litúrgicos do clero é o roxo. No terceiro
domingo do Advento, o denominado domingo “Gaudete”, pode usar-se,
facultativamente o rosa, representando a alegria pela vinda de Cristo.
Nas celebrações eucarísticas não é recitado o Glória, de maneira que
este hino antiquíssimo ressoe mais vivamente na missa da noite da
solenidade do nascimento de Jesus.
Fogem a estes preceitos as solenidades agendadas para o tempo do
Advento. Em Portugal, por exemplo, no dia 8 de dezembro celebra-se a
Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, padroeira principal do país e
das dioceses de Évora, Santarém, Setúbal e Vila Real. Os paramentos
são brancos e recita-se o Glória.
Os nomes tradicionais dos domingos do Advento são extraídos das
primeiras palavras da antífona de entrada na missa (que, muitas vezes,
não são proferidas, especialmente quando as celebrações são cantadas). O
primeiro domingo é dito do “Ad te levavi” (“A ti elevo” [a minha
alma], Salmo 25; o segundo domingo é chamado de “Populus Sion” (“Povo
de Sião”, Isaías 30, 19.30); o terceiro domingo é o do “Gaudete”
(“Alegrai-vos”, Filipenses 4, 4.5); o quarto domingo é o do “Rorate”
(“Infundi” [a vossa graça em nossas almas], Isaías 45, 8).
A origem do Advento
O termo Advento deriva da palavra “vinda”, em latim “adventus”. O
vocábulo pode traduzir-se por “presença”, “chegada”, “vinda”. Na
linguagem do mundo antigo era um termo técnico utilizado para indicar a
chegada de um funcionário, a visita do rei ou do imperador a uma
província. Mas podia indicar também a vinda da divindade, que desce do
seu escondimento para manifestar-se com poder, ou que é celebrada
presente no culto.
Os cristãos adotaram a palavra Advento para exprimir a sua
relação com Cristo: Jesus é o Rei, entrado nesta pobre “província”
denominada de “Terra” para todos visitar; na festa do seu advento faz
participar todos os que crêem nele. Com a palavra “adventus” queria-se
substancialmente dizer: Deus está aqui, não se retirou do mundo, não
nos deixou sós. Mesmo que não o possamos ver e tocar como acontece com
as realidades sensíveis, Ele está aqui e vem visitar-nos de múltiplos
modos.
O tempo da espera e as leituras
O Advento é o tempo da espera, celebrando a vinda de Deus nos
seus dois momentos: a primeira parte do Advento convida a despertar a
espera do regresso glorioso de Cristo; depois, aproximando-se o Natal, a
segunda parte remete para o mistério da Incarnação (Jesus que se faz
carne) e apela a acolher o Verbo feito homem para a salvação de todos.
Isto é explicado no primeiro prefácio do Advento, ou seja, a oração que
“abre” a liturgia eucarística dentro da missa, após o Ofertório. Nela
sublinha-se que o Senhor «veio a primeira vez, na humildade da natureza
humana, realizar o eterno desígnio do vosso amor e abrir-nos o caminho
da salvação; de novo há-de vir, no esplendor da sua glória, para nos
dar em plenitude os bens prometidos que, entretanto, vigilantes na fé,
ousamos esperar».
As leituras bíblicas das missas – em 2017 são seguidas as do ano
litúrgico B – testemunham esta divisão do Advento. Até ao terceiro
domingo a liturgia focaliza-se na espera do regresso do Senhor. Depois
marca de maneira mais específica a espera e o nascimento de Jesus. No
primeiro domingo o Evangelho (Marcos 13, 33-37) tem no centro a palavra
de Cristo: «Vigiai, não sabeis quando regressará o dono da casa». No
segundo domingo o Evangelho (Marcos 1, 1-8) detém-se sobre o Batismo e
sobre as palavras de João Batista no rio Jordão: «Depois de mim vem
aquele que é mais forte do que eu: eu não sou digno de me inclinar para
desatar as suas sandálias». No terceiro domingo o Evangelho (João 1,
6-8. 19-28) tem ainda no centro João Batista, que «vem como testemunha
para dar testemunho da luz» e que, interrogado pelos judeus, diz: «No
meio de vós está alguém que não conheceis». O Evangelho do último
domingo (Lucas 1, 26-38) é o da Anunciação e tem como eixo a figura de
Maria.
Maria, ícone do Advento
O tempo do Advento tem como ícone a Virgem. O papa Francisco
realçou que «Maria é o “caminho” que o próprio Deus se preparou para vir
ao mundo» e é «ela que tornou possível a incarnação do Filho de Deus,
“a revelação do mistério, envolvido no silêncio durante séculos
eternos” (Romanos 16, 25)» graças «ao seu “sim” humilde e corajoso». A
presença da solenidade da Imaculada Conceição faz parte do mistério que
o Advento celebra: Maria é protótipo da humanidade redimida, o fruto
mais excelso da vinda redentora de Cristo.
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