Chorar em vida

"É preciso chorar uns com os outros."
Pe. Rui Miguel

Concordo plenamente com estas palavras proferidas pelo meu pároco.
Está como que instaurado, nos dias de hoje, a simbologia do fracasso naquele que chora.

Esqueceu-se o verdadeiro significado, pois todo aquele que chora ama. Todo aquele que chora vive. Todo aquele que chora sente. Todo aquele que chora deixa-se tocar pela simplicidade.
E só quem se deixa tocar por esta simplicidade poderá, um dia, alcançar a santidade e perceber o mistério que existe à volta da morte.
Também a morte é algo que vamos mudando na nossa sociedade. Queremos mascará-la. Queremos fazê-la desaparecer como se um dia ela não nos viesse bater à porta.
É preciso que a morte seja enfrentada e falada nos nossos dias. É preciso que ela esteja presente para que assim possamos alcançar a simplicidade de uma vida com sentido.
É preciso que ela se manifeste, para que não vivamos iludidos com as coisas do mundo.
É preciso que ela se faça presente, para que possamos chorar uns com os outros a dor, a saudade e o aperto no coração.
Não acredito que este Deus queira que choraremos constantemente, mas acredito, profundamente, que Ele nos convida a chorar para percebermos que todos necessitamos de tirar essas máscaras que nos vão acompanhando na azáfama da vida e que não nos deixam perceber e viver aquilo que realmente importa.
É preciso chorarmos uns com os outros para sentirmos o batimento do outro.
É preciso chorarmos uns com os outros para percebermos que somos todos feitos da mesma substância.
É preciso chorarmos uns com os outros para entendermos, de uma vez por todas, que por muita coisa que aconteça precisaremos sempre de todos, para vivermos em plena felicidade e comunhão.
No entardecer da vida de cada um é importante que o choro seja uma realidade não para cairmos na pieguice, mas para que sejamos, cada vez mais, homens e mulheres, de coração simples e aberto. Para que sejamos, cada vez mais, homens e mulheres, que mesmo tropeçando e caindo no erro e no pecado, vão caminhando em direção da santidade a que todos somos convidados.
Deixemos que o choro nos desnude e nos deixe somente com a nossa vida nas mãos.
Deixemos que o choro mostre a nossa verdadeira humanidade!


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