Os Santos, pessoas de família

Na proximidade do Dia de Todos os Santos, apresentamos um texto de D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém, de 6 de Agosto de 2006, que, embora seja dedicado às festas dos padroeiros, traduz a comunhão dos santos, sobretudo a familiaridade dos mesmos na vida da família e como os Santos não estão fora da família.


estes tempos de Verão assistimos a muitas festas dos padroeiros (as), em que a procissão com os andores dos santos é um dos momentos mais importantes e participados. As imagens dos santos saem pelas ruas da povoação como se fossem visitar e abençoar as pessoas da comunidade. Tenho, porém, a impressão de que, frequentemente, são olhados como uns estranhos, uns ilustres desconhecidos. Pouca gente hoje conhece os santos cujas imagens são tradicionalmente veneradas nos lugares de culto da sua terra. No entanto, eles são verdadeiramente pessoas ilustres da nossa família que permanecem como referências luminosas numa cultura do vazio como a nossa. Conheci um senhor, professor do ensino secundário, que na cidade onde ensinava não ia habitualmente à missa dominical, por se sentir em ambiente estranho. Mas em férias, na sua aldeia, apreciava muito a missa da festa do padroeiro porque o pregador, já de idade, comentava, todos os anos, os exemplos da vida dos santos que iam na procissão e ele sentia-se em família. Era como se aqueles santos fizessem já parte das suas raízes, do património da sua comunidade. Na verdade, os santos são mesmo da nossa família espiritual. A Igreja a que pertencemos, é uma "Comunhão dos Santos", formada não apenas por nós, membros da Igreja peregrina, mas também por uma multidão de santos que, na sua vida, testemunharam a fé em Deus e nos homens, dedicaram-se ao serviço do amor e da paz. Os santos brilham como estrelas no firmamento. São diferentes entre si, como nós uns dos outros, mas têm em comum a dedicação heróica ao que é essencial: procurar Deus, viver na Sua amizade e amar os homens e o mundo como criaturas de Deus. Há tempos fui celebrar a uma paróquia no dia da festa do Santo Padroeiro e, com grata surpresa, encontrei vários cartazes com episódios da vida do Santo expostos ao público. Algumas catequistas tinham feito uma pesquisa na Internet e descoberto esses exemplos. De facto, assim um santo torna-se exemplar, fala às pessoas, adquire carne e sangue, ou seja, situa-se na nossa vida real como uma referência positiva. Nos últimos anos tenho notado como os santos readquirem maior importância na catequese e na vida da Igreja. O Papa Bento XVI tem feito catequeses muito ricas e cheias de interesse sobre cada um dos Apóstolos e agora anda a abordar os padres da Igreja. As publicações sobre biografias de santos têm aumentado e mostram qualidade e actualidade. Várias revistas católicas têm-lhes dado espaço e importância. O nosso "Porta do Sol", com o jeito e a dedicação do nosso colaborador Joaquim Bicho, também nos presenteou com vidas de santos. É importante falar dos santos de modo que eles se tornem referências que ajudem a encarnar o evangelho na vida. Eles saem para a rua, nas procissões, para nos ensinar a viver a espiritualidade na vida quotidiana. Na verdade, por se dedicarem intensamente ao amor de Deus, amaram também o mundo do seu tempo, um mundo em crise mas que eles souberam ver como criatura de Deus e descobrir nele as sementes do evangelho. Por isso, se tornaram luz e fermento de um mundo melhor. Ensinam-nos, portanto, a viver a espiritualidade no quotidiano. É a espiritualidade que dá beleza à vida humana e nos leva a ver o mundo e a vida com os olhos de Deus, ou seja com um olhar positivo de encanto, misericórdia e responsabilidade. Por isso, os santos são como candeeiros que iluminam o caminho dos homens. 

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