«Diante da morte, conservar a chama da fé»

Na audiência geral desta quarta-feira na Praça de São Pedro, o Papa Francisco estabeleceu uma relação entre a esperança cristã e a realidade da morte que  - disse – a civilização moderna tende cada vez mais a cancelar.
Assim, nos encontramos impreparados, sem um ”alfabeto” adequado para dizer palavras com sentido em volta do mistério da morte. No entanto, os primeiros sinais de civilização humana passaram precisamente por este enigma.

“Poderíamos dizer que o homem nasceu com os culto dos mortos. “

Diversas civilizações olharam com coragem para esta realidade ineludível que obrigava o homem a viver por algo de absoluto – afirmou Francisco citando o salmo 90 que diz “Ensina-nos a contar os dias e a termos um coração sábio”. Palavras – continuou o Papa – que nos chama a um são realismo, pondo de lado o delírio da omnipotência.  O que somos nós? – perguntou Francisco, que respondeu com as palavras do salmo 88: “quase nada”, a vida passa como um sopro, e a morte põe a nu a nossa vida e nos mostra que os nossos actos de orgulho, de ira, de ódio não eram senão vaidade, pura vaidade. E nos damos conta, com amargura, de não ter amado suficientemente, de não ter procurado o que era essencial. Por outro lado, vemos o que de realmente bom semeamos: os afectos pelos quais nos sacrificamos  e que agora nos asseguram a mão. E Bergoglio continuou:

“Jesus iluminou o mistério da nossa morte. Com o seu comportamento nos autoriza a nos sentirmos tristes quando um ente querido morre. Ele se sentiu profundamente perturbado  perante o túmulo do amigo Lázaro e desatou a chorar. Nesta atitude, sentimos Jesus muito próximo, nosso irmão. Ele chorou pelo seu amigo Lázaro” .

E Jesus rezou ao Pai, fonte de vida e ordenou que Lázaro saísse do túmulo. A esperança cristã – explicou o Papa – apoia-se nesta atitude que  Jesus assumiu perante a morte humana. Embora a morte esteja presente na criação é, contudo, como que uma ferida que deturpa o projecto do amor de Deus, e o Salvador quer curar essa ferida.

O Papa falou ainda doutros episódios bíblicos em que, perante a doença e a morte, as pessoas se dirigem a Jesus para que ponha remédio a isso. E Ele sugere que não se tenha medo, mas sim a manter viva a chama da fé. E diz “Eu sou a ressurreição e a vida, quem acredita em mim, mesmo que morra viverá; quem vive e acredita em mim, não morrerá em eterno”. Acreditas nisso?– interpelou o Papa, frisando que toda a nossa existência se joga nisto, entre o lado da fé e precipício do medo. E lançou mais uma pergunta:

“Nós aqui nesta Praça, acreditamos nisto?”  

A este pergunta Francisco respondeu que perante a morte somos todos pequenos e indefesos, mas  - disse - será uma graça se naquele momento tivermos no coração a chama da fé. E tal Jesus como fez com a filha de Jairo a quem disse “Talita Kum” (menina, levanta-te), também dirá a cada um de nós: “levanta-te, ressurge!”

E Francisco lançou um convite aos participantes na audiência:

“Eu vos convido, agora, a fechar os olhos e a pensar naquele momento: da nossa morte. Cada um de nós pense na própria morte, e imagine aquele momento que virá, quando Jesus nos tomará a mão e nos dirá: “vem, vem comigo, levanta-te”. Ali acabará a esperança e será a realidade, a realidade da vida. Pensai bem: o próprio Jesus virá a cada um de nós e nos tomará as mãos, com a sua ternura, a sua doçura, o seu amor. E cada um repita no seu coração as palavras de Jesus: “levanta-te, vem. Levanta-te, vem. Levanta-te, ressurge!”.

Esta é a nossa esperança perante a morte. Para quem acredita é uma porta que se abre de par em par. Para quem dúvida é um raio de luz que passa por um buraquito que não se fechou completamente. Mas para todos será uma graça, quando essa luz, do encontro com Jesus, nos iluminar – concluiu o Papa.

No final da sua reflexão bíblica, o Papa lançou este apelo relativo à Somália: Ouçamos:

“Desejo exprimir a minha dor pelo massacre acontecido há alguns dias atrás em Mogadiscio, na Somália, que causou mais de trezentos mortos, entre os quais algumas crianças. Este acto terrorista merece a mais firme deploração, também porque se perpetua sobre uma população já muito provada. Rezo pelos defuntos e pelos feridos, para os seus familiares e por todo o povo da Somália. Imploro a conversão dos violentos e encorajo quantos, com enormes dificuldades, trabalham pela paz naquela terra martirizada .”

A catequese do Papa foi resumida em diversas línguas para os grupos presentes a quem saudou. Eis a tradução da sua saudação aos peregrinos de língua portuguesa:

“Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, com destaque para os diversos grupos vindos do Brasil, em particular os fiéis da arquidiocese de Natal com o seu Pastor e os da arquidiocese de Londrina, convidando todos a permanecer fiéis a Cristo Jesus, como os Protomártires do Brasil. O Espírito Santo vos ilumine para poderdes levar a Bênção de Deus a todos os homens. A Virgem Mãe vele sobre o vosso caminho e vos proteja”.

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