A agenda política do Bloco é promover a ambiguidade da identidade
sexual e considerar normal aquilo que, na maioria dos casos, é
patológico, pelo que são muitos os perigos desta aberração legislativa.
Já há muitos anos que tem vindo a ser implementada em Portugal (e
também noutros países) uma ideologia que se designa por “ideologia do
género”. Esta teoria assenta na ideia radical de que os sexos masculinos
e femininos não passam de uma construção mental, cabendo à pessoa
escolher a sua própria identidade de género (já existem identificadas
mais de 30!). Trata-se de um movimento cultural com impacto na família,
na política, na educação, na comunicação social e que reclama a
utilização de uma nova linguagem.
A Assembleia da República discute um projeto-lei do Bloco de Esquerda
que permite a mudança de sexo aos 16 anos e, no caso de os pais se
oporem a esta ideia, possibilita que os menores possam intentar
judicialmente contra estes. A agenda política do BE é a seguinte:
promover a ambiguidade da identidade sexual e considerar normal aquilo
que, na maioria dos casos, é patológico. Convém alertar as pessoas para
os perigos desta aberração legislativa, pois os deputados não sabem de
medicina, nem tão-pouco de psiquiatria. Os casos de perturbação de
identidade sexual (disforia de género) são complexos e levam por vezes
os jovens ao suicídio, pelo que este assunto deve ser tratado com uma
enorme prudência. Considerar que estes casos se resolvem com um pacote
legislativo, é uma visão simplista, redutora e perigosa deste problema.
A estratégia por detrás desta mutação social, que agora se pretende
implementar pela via legislativa, é fazer crer que a a ideologia de
género é cientificamente correta. As teses desta ideologia são
apresentadas como um dado científico consensual e indiscutível, mas isto
é absolutamente falso. A natureza tem regras, cabe à ciência
compreendê-las e descodificá-las. Portanto, compete à ciência elaborar
as teorias que ajudem a desvendar a realidade e não o contrário, como
acontece na ideologia do género: elaborou-se uma teoria e para a validar
procura-se alterar a realidade.
As consequências deste conflito estão à vista. Nunca como hoje se
baralhou e confundiu tanto a mente de crianças e adolescentes. E isto
não tem nada a ver com liberdade, mas com uma doutrinação promovida por
alguns partidos que se apoderaram ideologicamente do Estado e que
desejam proceder à reeducação das massas. Neste contexto, esta proposta
legislativa não poderia ser mais tirânica: os pais são expulsos do
processo educativo, os psiquiatras e psicólogos são totalmente
desvalorizados, sendo-lhes retiradas competências, e os menores passam a
ser “propriedade” do Estado que, no plano educativo e legislativo, lhes
impõe um novo sistema de valores baseado na ideologia do género.
É espantoso assistir-se a uma indolência perante uma ideologia que se
entranhou na sociedade como se fosse um dogma de fé. Mas esta ideologia
não exprime a verdade da pessoa humana. Trata-se afinal de uma aventura
ideológica, inspirada pelo desejo do Homem controlar a natureza; neste
caso, o Homem decidiu declarar guerra à natureza.
Na identidade sexual não é sensato defender a supremacia absoluta da
dimensão biológica sobre a dimensão psicológica/sociocultural. O ideal é
que haja uma harmonia entre ambas, não sendo ético provocar desordens
psicopatológicas artificiais, através da difusão de uma ideologia
radical destinada a criar um “homem novo”. Considero uma
irresponsabilidade que Estado fomente, seja de que forma for, a
ambiguidade da identidade sexual dos adolescentes, deixando-os ficar
entregues a si próprios, através de um projeto-lei leviano e
irresponsável.
Como psiquiatra oponho-me a esta iniciativa legislativa do Bloco de
Esquerda, pois ela não respeita a ciência médica. Não podemos permitir
que os adolescentes sejam objeto de experiências de engenharia social. É
necessário criar condições para que as crianças e os adolescentes
possam crescer livres e mentalmente saudáveis, respeitando o direito que
os pais têm de dar a formação moral que considerarem melhor para os
seus filhos.
Os casos de disforia do género devem ser referenciados para a
psiquiatria, de modo a serem acompanhados pelos vários profissionais de
saúde competentes, pois as doenças não se tratam por decreto-lei. Além
disso, a história ensina-nos que sempre que a medicina se subjugou à
ideologia, os resultados foram desastrosos para a humanidade.
Pedro Afonso, Médico psiquiatra
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