Os pais precisam de parar e de repensar a sua
relação com os filhos. Mas para isso têm de se (re)descobrir e treinar o
cérebro. O mindfulness pode ajudar.
Psicóloga e professora de yoga, descobriu
depois os benefícios do mindfulness . Quando foi mãe, percebeu o
impacto desta prática na capacidade de educar os filhos, passando então a
dedicar-se de forma mais profunda à “parentalidade consciente” e ao
aconselhamento parental. O livro “Mindfulnes para Pais” é um pequeno
contributo para um “novo modelo de estar em família”.
Porquê mindfulness para pais?
Laura Sanches: O mindfulness tem benefícios
comprovados na nossa capacidade de gerir o stress e de lidar com os
desafios. Por outro lado, as investigações demonstram que, quando nos
tornamos pais, se nunca houve uma tomada de consciência e uma tentativa
de darmos algum significado às nossas próprias experiências de infância,
há uma probabilidade muito grande de recriarmos com os nossos filhos o
mesmo tipo de vinculação que tivemos com os nossos pais, mesmo quando
esta não foi propriamente positiva. As investigações demonstram também
que o mindfulness pode ser uma excelente forma de nos levar a romper
padrões de comportamento, permitindo-nos assim romper o ciclo.
Porque é que os pais não estão “verdadeiramente presentes” quando estão com os filhos?
L. S.: Os desafios para os pais dos nossos
dias são cada vez maiores, o que significa que, muitas vezes há muitas
preocupações e tarefas que precisam de ser cumpridas e das quais é muito
difícil conseguirem desligar-se. Por outro lado, a verdade, é que
estamos cada vez menos treinados para sermos capazes de dirigir a nossa
atenção e, sem esse treino, muitas vezes, torna-se difícil manter o foco
mesmo naquilo que é importante.
Para além disto, muitas vezes o que acontece
é que também não temos noção da importância que tem o facto de estarmos
realmente presentes e de como isso pode mudar todo o nosso
relacionamento com as crianças.
Os pais precisam de ser (re)educados?
L. S.: Trazemos quase sempre
condicionamentos da nossa própria infância que nem sempre facilitam o
nosso relacionamento com os filhos. Por outro lado, há que relembrar a
importância fundamental que tem a nossa relação com os filhos e
reconhecer que, nas últimas décadas, esta foi muitas vezes prejudicada
por conselhos de supostos especialistas que se baseavam em conceitos que
não eram muito alicerçados na ciência mas em teorias que passavam mais
pela observação de comportamentos. Esta geração de pais vem também de
uma altura em que foram introduzidas muitas práticas que hoje se sabe
não serem propriamente positivas para o desenvolvimento da criança, como
os leites artificiais, o não pegar os bebés ao colo e até coisas como
os castigos de isolamento que, apesar de serem diferentes têm o mesmo
efeito: prejudicar todo o processo de vinculação da criança aos pais.
Como é que o mindulness ajuda?
L. S.: Pondo-nos mais em contacto connosco
próprios e ensinando-nos a acolher os nossos estados. Um exemplo
concreto é o da zanga: é uma emoção que é muitas vezes vivida como
ameaçadora para os pais, porque eles têm dificuldade em lidar com a sua
própria zanga. Quando percebemos que podemos lidar com a nossa zanga,
fica mais fácil perceber que podemos aceitar e acolher a zanga dos
nossos filhos. E isto é fundamental para que eles não cresçam com medo
das suas emoções e para que se sintam aceites mesmo nesses momentos.
Esta nova atitude “treina-se”?
L. S.: Tudo na vida tem de ser aprendido. Até o relaxamento e o direcionar da atenção precisam de ser treinados e aprendidos.
Isso significa uma prática de quanto tempo?
L. S.: Depende um pouco de pessoa para
pessoa. Regra geral recomenda-se começar com cerca de 20 minutos de uma
prática diária mas isto pode e deve ser adaptado a cada um. Depois há
exercícios que podemos também ir fazendo ao longo do dia mas que não
devem ser substitutos de uma prática mais formal, porque é nessa prática
que estamos a treinar verdadeiramente o nosso cérebro.
Pais diferentes são pessoas diferentes?
L. S.: Quando mudamos a nossa atitude com os
filhos, significa que já fizemos esse trabalho de conscencialização de
quem somos, daquilo que queremos e do que é realmente importante para
nós. Por isso é natural que isto acabe por se refletir noutras áreas da
nossa vida. Na verdade para sermos pais verdadeiramente conscientes e
presentes precisamos primeiro de amadurecer verdadeiramente porque
crescer em idade nem sempre é sinónimo de amadurecimento e de um
verdadeiro desenvolvimento.
Comentários
Enviar um comentário