«Há uma tendência muito
perigosa de aceitar tudo o que se diz, tudo o que se lê, de aceitar sem
colocar em discussão. E, ao contrário, só quem está pronto a pôr em
discussão, a pensar autonomamente, encontrará a verdade. Para conhecer
as correntes do rio, quem quer a verdade tem de entrar na água.»
Leio estas palavras de um sábio indiano,
Nisargadatta Maharaj, falecido em 1982. Todos sabemos que não raramente
a informação é fabricada para uso de finalidades nem sempre
confessáveis; muitas vezes descobrimos que os dados apresentados pelos
jornais são aproximativos e, por vezes, claramente falsificados.
Todavia, deixamo-nos ir lentamente à
deriva, e alguns meios particularmente poderosos, como a televisão,
envolvem as nossas mentes numa rede de lugares comuns, de convicções, de
decisões que são acriticamente absorvidas na nossa existência. Eis,
então, o apelo daquele sábio para exercitar vigorosamente a razão e o
juízo.
Mas a mim agrada-me sobretudo a imagem
do imergir na verdade e na realidade, com uma busca pessoal, fatigante,
como quando se é obrigado a ir contra as correntes, nadando em sentido
oposto.
Já um grande escritor do século XX,
Robert Musil, em "O homem sem qualidades", declarava que a verdade não é
uma pedra preciosa a guardar num cofre ou no bolso, mas antes um mar
infindável ao qual uma pessoa se deve lançar. É preciso, então,
reencontrar o gosto da busca e da interrogação.
A própria fé não é uma adesão de olhos
fechados e sem pensamento; ainda que a escolha última seja risco e
confiança, ela supõe uma coerência interna e tem uma substancial
premissa fundada na razão. Crer e compreender devem avançar juntos.
[Card. Gianfranco Ravasi | In "Avvenire" ]
IMISSIO
Comentários
Enviar um comentário