«Todos os homens, todas as mulheres têm uma inquietação no
coração, boa ou má, mas há inquietação. Escuta essa inquietação», apelou
hoje o papa, no Vaticano, acrescentando que esta atitude não pode ser
confundida com «proselitismo».
Na missa a que presidiu, Francisco deteve-se na primeira leitura
bíblica proclamada nas missas desta quinta-feira (Atos dos Apóstolos 8,
26-40), em que um anjo pede ao apóstolo Filipe para se levantar e
dirigir de Jerusalém a Gaza.
«Este é um sinal da evangelização», frisou o papa, citado pela
Rádio Vaticano, acrescentando que o mensageiro divino não diz ao
discípulo para «ficar sentado, tranquilo, em casa».
Uma Igreja «que não se levanta, que não está a caminho, adoece»,
e por isso desacomodar-se e sair deve ser a primeira atitude dos
católicos, enquanto que «escutar é o segundo passo» e a «alegria» o
terceiro.
O excerto bíblico narra o encontro entre um peregrino etíope,
administrador do tesouro da rainha, e Filipe, que o evangeliza. Tendo em
conta que se tratava de um «ministro da economia», a conversão foi «um
grande milagre», observou Francisco, que convidou os fiéis a relerem
em casa o trecho dos Atos dos Apóstolos.
Não é a primeira vez que o papa acentua que os católicos são
chamados a aproximarem-se do desassossego existencial: «A Igreja, com
paciência materna, prossegue os seus esforços para responder às
inquietações de tantos homens e mulheres que experimentam a angústia e o
desencorajamento perante o futuro».
«Quereis fazer-vos próximos das pessoas que sofrem do vazio
espiritual e estão à procura de sentido para a sua vida, ainda que nem
sempre o sabem exprimir. Como acompanhá-los fraternamente nesta
procura, a não ser colocando-se à escuta para partilhar com eles a
esperança, a alegria, a capacidade de seguir em frente que Cristo nos
dá?», perguntou em dezembro 2013 aos bispos dos Países Baixos.
Antes, em julho do mesmo ano, no Rio de Janeiro, o papa tinha
afirmado ao episcopado brasileiro que faz falta uma Igreja que não tenha
medo de entrar na noite» de quem se afasta de Deus, de quem vagueia
«sem meta», «com o seu próprio desencanto, com a desilusão de um
cristianismo considerado hoje um terreno estéril, infecundo, incapaz de
gerar sentido».
«Somos ainda uma Igreja capaz de aquecer o coração? Uma Igreja capaz
de reconduzir a Jerusalém? Capaz de acompanhar de novo a casa? Em
Jerusalém, residem as nossas fontes: Escritura, Catequese, Sacramentos,
Comunidade, amizade do Senhor, Maria e os apóstolos... Somos ainda
capazes de contar de tal modo essas fontes, que despertem o encanto
pela sua beleza?», questionou Francisco.
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