A Igreja começou por rejeitar os relatos das crianças
sobre as aparições, mas acabou por se render aos pedidos insistentes do povo
crente que ia relatando graças. Três Papas visitaram Fátima. Fazemos uma viagem
ao passado para ver o que disseram.
Olhando retrospetivamente para o «acontecimento
Fátima» e a sua relação com a Igreja, encontramos logo a figura do Papa Paulo
VI. Isto ficou a dever-se a dois fatores: à bênção e oferta da «rosa de ouro»
ao Santuário de Fátima em 1965, e à sua vista ao Santuário aquando dos 50 anos
das aparições, sendo o primeiro Papa a visitar aquele Santuário.
A Igreja e
a paz no mundo
A rosa de ouro é um sinal de particular benevolência
ou em reconhecimento e recompensa de assinalados serviços prestados à Igreja ou
a bem da sociedade. O Papa Paulo
VI abençou-a, mas não a entregou
pessoalmente. No discurso de bênção, disse que a oferta era o testemunho do
paternal afeto que Roma (e em especial o Papa) mantinha pela «nobre Nação»
Portuguesa; «é penhor da Nossa devoção que temos ao insigne Santuário, onde foi
levantado à Mãe de Deus um seu altar», afirmou. Paulo VI acrescentou que «a
rosa é a púrpura dos canteiros e esta é o símbolo da penitência. Vindo a Virgem
a Fátima para recordar ao mundo a mensagem evangélica da penitência e da
oração, então por ele tão esquecida, deveis ser vós, amados filhos, a dar o
exemplo no cumprimento desta mensagem».
Quando foi anunciada a visita do Papa Paulo VI a
Portugal, foi apresentada como «peregrinação para honrar Maria Santíssima e
invocar a sua intercessão em favor da paz da Igreja e do mundo». E, de facto,
foi isso que se viu na homilia do dia 13 de maio de 1967. O Papa começa por
apresentar duas intenções: «A primeira intenção é a Igreja: a Igreja una,
santa, católica e apostólica. Queremos rezar, como dissemos, pela sua paz
interior». A segunda «é o mundo, a paz do mundo». Para estas duas intenções faz
duas preces: «Queremos pedir a Maria uma Igreja viva, uma Igreja verdadeira,
uma Igreja unida, uma Igreja santa» e «a paz, dom que só Deus pode dar».
João Paulo
II, o Papa de Fátima
Depois temos a figura de João Paulo II, um Papa com
Fátima no coração. Após o atentado, que ocorreu na Praça de São Pedro, em 13 de
maio de 1981, no período de convalescença, pediu que lhe lessem toda a
documentação sobre Fátima. Foi então aí que estabeleceu a ligação entre Fátima
e o seu atentado afirmando: «Uma mão disparou. Mas outra mão guiou a bala.»
Um ano depois, visita o Santuário de Fátima. Na
homilia de 13 de maio de 1982, percebemos que a visita do Papa era uma visita
de louvor e de ação de graças:
«Estas datas encontraram-se entre si de tal maneira,
que me pareceu reconhecer nisso um chamamento especial para vir aqui. E eis que
hoje aqui estou. Vim para agradecer à Divina Providência, neste lugar, que a
Mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular.»
Anos mais
tarde, em 13 de maio de 2000, novamente regressado a Fátima, para uma ocasião
especial – a beatificação dos pastorinhos de Fátima –, João Paulo II faz um
retrato dos dois pastorinhos relacionando-os com a mensagem de Fátima. Depois
faz uma leitura da mensagem de Fátima e da sua relação com o mundo.
«A mensagem de Fátima é um apelo à conversão,
alertando a humanidade para não fazer o jogo do “dragão” que, com a “cauda,
arrastou um terço das estrelas do Céu e lançou-as sobre a terra” (Ap 12,4). A
meta última do homem é o Céu, sua verdadeira casa onde o Pai celeste, no seu
amor misericordioso, por todos espera.» E diz também: «Na sua solicitude
materna, a Santíssima Virgem veio aqui, a Fátima, pedir aos homens para “não
ofenderem mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido”. É a dor de mãe
que a faz falar; está em jogo a sorte de seus filhos. Por isso, dizia aos
pastorinhos: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão
muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”.»
Pelas vezes que veio a Fátima e pelo cruzamento que o
«acontecimento Fátima» teve no seu pontificado, João Paulo II ficou conhecido
por ser o Papa de Fátima. Não obstante tudo isto é necessário ter em conta que
o lema episcopal de João Paulo II era «Totus Tuus», expressão mariana de São
Luís Maria Grignion de Montfort.
Bento XVI:
«Vim a Fátima rezar»
Chegamos agora a Bento XVI. Joseph Ratzinger foi o
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé de 1981 a 2005. Por isso, estava
bem ciente do que era Fátima e que importância tinha para a Igreja. É bela a
forma como Bento XVI, na sua homilia no dia 13 de maio de 2010, fala:
«Irmãs e irmãos muito amados, também eu vim como
peregrino a Fátima, a esta «casa» que Maria escolheu para nos falar nos tempos
modernos. Vim a Fátima para rejubilar com a presença de Maria e sua materna
proteção. Vim a Fátima, porque hoje converge para aqui a Igreja peregrina,
querida pelo seu Filho como instrumento de evangelização e sacramento de
salvação. Vim a Fátima para rezar, com Maria e tantos peregrinos, pela nossa
humanidade acabrunhada por misérias e sofrimentos.»
É interessante notar que o Papa fez referência ao
centenário que iria ter lugar sete anos depois: «Mais sete anos e voltareis
aqui para celebrar o centenário da primeira visita feita pela Senhora “vinda do
Céu”, como Mestra que introduz os pequenos videntes no conhecimento íntimo do
Amor Trinitário e os leva a saborear o próprio Deus como o mais belo da
existência humana.» Termina a homilia reiterando que o «acontecimento Fátima»
ainda não está terminado.
«Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de
Fátima esteja concluída. Aqui revive aquele desígnio de Deus que interpela a
humanidade desde os seus primórdios: “Onde está Abel, teu irmão? […] A voz do
sangue do teu irmão clama da terra até Mim” (GN 4, 9). O homem pôde espoletar
um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo… Na Sagrada
Escritura, é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade
humana e o mesmo faz aqui, em Fátima, quando Nossa Senhora pergunta: “Quereis
oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser
enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele mesmo é ofendido e de
súplica pela conversão dos pecadores?”»
Nestes 100 anos das aparições de Nossa Senhora aos
três pastorinhos em Fátima três Papas visitaram o Santuário. Francisco será o
quarto.
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