Acreditar em Deus que é misericórdia e não
violência, recusar o culto do egoísmo, abraçar o sofrimento na certeza da
eternidade, vencer uma espiritualidade exclusivamente devocional e
transformá-la em dádiva aos pobres foram alguns dos exigentes desafios que o
papa lançou hoje, no Egito.
Naquela que foi a única missa a que
presidiu na viagem ao Cairo, que começou sexta-feira e termina ao final da
tarde deste sábado, Francisco vincou que «não vale a pena ter muita
religiosidade, se não for animada por muita fé e muita caridade», nem «vale a
pena cuidar da aparência, porque Deus vê a alma e o coração».
«Não vale a pena encher os lugares de
culto, se os nossos corações estiverem vazios do temor de Deus e da sua
presença; não vale a pena rezar, se a nossa oração dirigida a Deus não se
transformar em amor dirigido ao irmão», frisou o papa, acrescentando: «Para
Deus, é melhor não acreditar do que ser um falso crente, um hipócrita».
Como se definirá, então, «a fé
verdadeira»? «É a que nos torna mais caridosos, mais misericordiosos, mais
honestos e mais humanos; é a que anima os corações levando-os a amar a todos
gratuitamente, sem distinção nem preferências; é a que nos leva a ver no outro,
não um inimigo a vencer, mas um irmão a amar, servir e ajudar».
«Deus
só aprecia a fé professada com a vida, porque o único extremismo permitido aos
crentes é o da caridade. Qualquer outro extremismo não provém de Deus nem lhe
agrada»
Acreditar genuinamente em Cristo implica,
concretamente, «espalhar, defender e viver a cultura do encontro, do diálogo,
do respeito e da fraternidade», e ao mesmo tempo «ter a coragem de perdoar»,
«dar uma mão a quem caiu, a vestir o nu, a alimentar o faminto, a visitar o
preso, a ajudar o órfão, a dar de beber ao sedento, a socorrer o idoso e o
necessitado».
«A verdadeira fé é a que nos leva a
proteger os direitos dos outros, com a mesma força e o mesmo entusiasmo com que
defendemos os nossos. Na realidade, quanto mais se cresce na fé e no seu
conhecimento, tanto mais se cresce na humildade e na consciência de ser
pequeno», declarou.
Duas frases que podem sintetizar o
pensamento do papa sobre a autêntica espiritualidade cristã: «Deus só aprecia a
fé professada com a vida, porque o único extremismo permitido aos crentes é o
da caridade. Qualquer outro extremismo não provém de Deus nem lhe agrada».
Francisco observou que muitas vezes o ser
humano «autoparalisa-se, recusando-se a superar a sua ideia de Deus, um deus
criado à imagem e semelhança do homem! Quantas vezes se desespera, recusando-se
a crer que a omnipotência de Deus não é omnipotência de força, de autoridade,
mas é apenas omnipotência de amor, de perdão e de vida».
É
quando cada pessoa «toca o fundo do fracasso e da incapacidade, quando se
despoja da ilusão de ser o melhor, ser o autossuficiente, ser o centro do
mundo, então Deus estende-lhe a mão para transformar a sua noite em alvorada, a
sua tristeza em alegria, a sua morte em ressurreição»
«Se não deixarmos romper o véu que ofusca
os nossos olhos, se não deixarmos romper o endurecimento do nosso coração e dos
nossos preconceitos, nunca poderemos reconhecer o rosto de Deus», apontou.
A homilia do papa baseou-se no Evangelho
proclamado nas missas deste domingo, que narra o encontro de Jesus
ressuscitado, a caminho de Emaús, com dois discípulos consternados por pensarem
que Ele tinha morrido definitivamente (Lucas 24), sugerindo que este encontro
acontece continuamente.
«Na obscuridade da noite mais escura, no
desespero mais desconcertante, Jesus aproxima-Se dos dois discípulos e caminha
pela sua estrada, para que possam descobrir que Ele é "o caminho, a
verdade e a vida". Jesus transforma o seu desespero em vida, porque,
quando desaparece a esperança humana, começa a brilhar a divina», afirmou.
É quando cada pessoa «toca o fundo do fracasso
e da incapacidade, quando se despoja da ilusão de ser o melhor, ser o
autossuficiente, ser o centro do mundo, então Deus estende-lhe a mão para
transformar a sua noite em alvorada, a sua tristeza em alegria, a sua morte em
ressurreição, o seu voltar atrás em regresso a Jerusalém, isto é, regresso à
vida e à vitória da Cruz».
«Não
tenhais medo de abrir o vosso coração à luz do Ressuscitado e deixai que Ele
transforme a vossa incerteza em força positiva para vós e para os outros. Não
tenhais medo de amar a todos, amigos e inimigos, porque, no amor vivido, está a
força e o tesouro do crente»
«Quem não faz a travessia desde a
experiência da Cruz até à verdade da Ressurreição, autocondena-se ao desespero.
Com efeito, não podemos encontrar Deus, sem crucificar primeiro as nossas
ideias limitadas dum deus que reflete a nossa compreensão da omnipotência e do
poder», prosseguiu Francisco.
Encontrar o Ressuscitado «transforma toda
a vida e torna fecunda qualquer esterilidade. De facto, a Ressurreição não é
uma fé nascida na Igreja, mas foi a Igreja que nasceu da fé na
Ressurreição».
«Não tenhais medo de abrir o vosso coração
à luz do Ressuscitado e deixai que Ele transforme a vossa incerteza em força
positiva para vós e para os outros. Não tenhais medo de amar a todos, amigos e
inimigos, porque, no amor vivido, está a força e o tesouro do crente», vincou o
papa, que concluiu a homilia em árabe: «Al Massih kam; bilhakika kam» («Cristo
ressuscitou; ressuscitou verdadeiramente)».
O programa anunciado pelo Vaticano para a
viagem continua com o almoço entre o papa e os bispos egípcios, que antecede o
encontro com o clero, religiosos e seminaristas. A partida do Cairo está
prevista para as 16h00 e a chegada a Roma é esperada para as 19h30 (hora de
Portugal continental).
SNPC
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Publicado em 29.04.2017
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Publicado em 29.04.2017
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