Pode o corpo acompanhar o espírito?
O corpo desgasta-se, o espírito cansa-se, mas renova-se.
O espírito deve guiar o corpo, não o contrário. Há quem deixe o seu
espírito adoecer tornando-se escravo dos apetites do corpo. Outros ainda,
impedem que o espírito se cure a si mesmo, sempre que preferem não se libertar
dos maus sentimentos e dos maus pensamentos.
Aquilo que o corpo sofre, o espírito sofre de forma ainda mais profunda. O
sofrimento é sempre multiplicado pela consciência que temos de nós mesmos.
Se o espírito é mais ágil do que o corpo que o abriga, então como pode este
acompanhá-lo? Importa que seja o espírito a decidir, em cada momento e idade, o
que é melhor para o corpo, atendendo às suas limitações e necessidades.
Quem enfrenta grandes adversidades tem, na maior parte dos casos, um
espírito heróico dentro de um corpo que se faz capaz de ir cumprindo as mais
duras missões. Afinal, a vontade pode sempre ser mais forte do que o corpo.
Hoje, valoriza-se o corpo pelo corpo, como se fosse um fim em si mesmo e
nele não houvesse mais nada. Como se as linhas externas de um corpo fossem
traços de personalidade, que podem ser reconhecidos e valorizados. Pelo
contrário, quem cultiva esta ideia acaba por se esquecer que é dentro de si que
o seu valor se define e que se vai concretizando nas decisões que toma e na
forma como as executa. É a liberdade do espírito que estabelece o valor de cada
ser humano. Há espíritos belos e jovens em corpos de muita idade.
O espírito deve guiar o corpo com delicadeza e prudência, sem ignorar as
necessidades, nem o poder e a força dos impulsos. As pressas fazem-nos tropeçar
e cair.
Quando o corpo não puder acompanhar, que o espírito encontre forma de o
levar para onde possam voar, apesar das aparências.
A verdadeira felicidade, a alegria do espírito, não se encontra no que já
se fez, nem no que ainda se tem por fazer… mas no que se faz, aqui e agora.
José Luís Nunes Martins
IN: http://rr.sapo.pt/artigo/80638/pode_o_corpo_acompanhar_o_espirito
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