“Deus”. Quando dizemos
esta palavra temos alguma ideia na cabeça, uma “imagem” de Deus. Claro que
qualquer ideia que tivermos de Deus, por melhor que ela seja, será sempre
incompleta (Deus é sempre muito maior que a nossa cabeça). Mas, por vezes, para
além de incompleta, a ideia que temos de Deus está distorcida. Aqui vão algumas
dessas imagens distorcidas de Deus:
Deus-energia. Algumas pessoas
pensam que Deus é uma “energia positiva”, talvez a energia do amor. De facto
Deus dá muita energia a quantos dele se aproximam. Mas a energia não é Deus. A
energia é impessoal e Deus é pessoal. Ou seja: Deus é um Alguém que nos conhece
e com quem podemos falar e ter uma relação de amizade. Ninguém fala com a
energia eléctrica! (a não ser num hospital psiquiátrico!)
Deus-universo. Algumas pessoas
pensam que Deus é o conjunto do universo. De facto, o universo reflecte um
pouco de quem é Deus. Mas Deus não é o universo: Deus é o criador do universo.
O universo reflecte quem é Deus tanto quanto uma obra de arte reflecte a
personalidade do artista que a criou. Uma coisa é o quadro que representa a
Mona Lisa e outra é Leonardo Da Vinci, o autor do quadro…
Deus
das marionetas. Algumas pessoas pensam que Deus é como um manipulador
de marionetas. As marionetas seríamos nós!! Ou seja: pensam que o nosso destino
está traçado e controlado por Deus. Mas não é assim: Deus dá e respeita a
liberdade que deu ao mundo e a cada um de nós. Está sempre connosco mas não nos
controla, nem mesmo quando nós decidimos negá-Lo ou não Lhe dar importância.
Deus-polícia. Algumas pessoas
pensam que Deus anda atrás de nós como um polícia, para ter a certeza de que é
cumprida a lei (a ordem moral, os mandamentos). De facto, Deus anda atrás de
nós e persegue-nos mas não por causa de lei: porque nos ama. Ele anda atrás de
nós como um rapaz apaixonado anda atrás da rapariga por quem se apaixonou. Não
está interessado em que a lei seja mantida, Deus está interessado em nós porque
nos ama. Se nos dá mandamentos é para nos indicar o caminho da nossa verdadeira
felicidade. Essa é a única coisa que lhe interessa…
Deus-companhia-de-seguros.
Algumas pessoas esperam que a sua fé funcione como um seguro: se
tiverem “as contas em dia” com Deus ficarão protegidas dos perigos e problemas
que mais temem (a doença, o fim do namoro ou casamento, etc). De facto, uma boa
relação com Deus dá-nos força e um sentimento grande de “abrigo” mas não nos
protege das dificuldades da vida. Mais: uma relação séria com Deus desafia-nos,
puxa por nós e convida-nos a ir mais longe na maneira de estarmos na vida.
Leva-nos até, por vezes, a enfrentar riscos que não teríamos sem Ele (como
aconteceu aos primeiros cristãos no circo de Roma).
Deus
relojoeiro. Algumas pessoas pensam que - há muito, muito tempo -
Deus criou o mundo e depois ficou simplesmente a observar. Como um relojoeiro
depois de ter acabado de fabricar um relógio ao qual já deu corda… De facto o
mundo tem a sua autonomia mas Deus não Se limita a observar: está sempre
presente e activo, encontrando mil e uma maneiras discretas de nos bater à
porta para intervir na nossa vida. Ou seja: continua a criar-nos (tal como um
pai anda a criar um filho) falando-nos e dando-nos continuamente oportunidades
e meios de crescimento.
Deus
Principezinho. Algumas pessoas associam Deus ao lado adolescente da
vida: às emoções fortes, à poesia, à intimidade, à música, ao “pôr-do-sol”… É
um Deus que só está presente nos “momentos mágicos”. De facto, há momentos
“mágicos” e poéticos na vida de quem tem fé. Mas também há momentos duros. E
Deus continua a estar lá… O mesmo Deus que criou o pôr-do-sol também deu a Sua
vida por nós numa cruz. Deus revela-se na poesia mas também está presente nos
momentos duros, inspirando-nos fidelidade e capacidade de superação de nós
mesmos.
… é assim o Deus que Jesus revelou e tratava por “Pai”.
[P.
Nuno Tovar de Lemos sj | www.essejota.net]
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