«Um momento belo da minha vida era quando,
criança, ia ao estádio com o meu papá; a mamã também ia, algumas vezes, ver o
jogo. Naqueles tempos não havia problemas no estádio, e isso era belíssimo.» «E
também um momento muito belo para mim - de que gosto muito - é quando posso
rezar em silêncio, ler a Palavra de Deus: faz-me bem, gosto muito.» Em resposta
a crianças com quem se encontrou este domingo numa paróquia de Roma, Francisco
falou também do que o assusta: a maldade e os falatórios, que destroem,
inclusivamente, a Igreja.
«A mim assusta-me quando uma pessoa é má:
a malvadez das pessoas. Quando uma pessoa - porque todos temos dentro de nós as
sementes da maldade, porque é o pecado que te leva a isso - escolhe ser má,
isso assusta-me muito. Porque uma pessoa má pode fazer muito mal.»
Foi com estas palavras que o papa começou
a responder a uma das perguntas colocada pelas crianças com que se encontrou na
tarde de hoje ao chegar à paróquia de Santa Madalena de Canossa, na periferia
de Roma, naquela que foi a 14.ª visita realizada à sua diocese, precisamente na
véspera de completar quatro anos como sucessor de Pedro.
«Assusta-me também quando numa família,
num bairro, num posto de trabalho, numa paróquia, inclusive no Vaticano, quando
há os falatórios, isso assusta-me. Digo-vos uma coisa, escutai bem. Já ouvistes
ou vistes na televisão o que fazem os terroristas? Colocam uma bomba e fogem,
fazem isto. Uma das coisas. Os falatórios são assim: é colocar uma bomba e ir
embora. E os falatórios destroem, destroem. Destroem uma família, destroem um
bairro, destroem uma paróquia, destroem tudo. Mas sobretudo os falatórios
destroem o teu coração. Porque se o teu coração é capaz de colocar a bomba, és
um terrorista, fazes o mal escondido e o teu coração torna-se corrompido. Nunca
os falatórios! Estais de acordo ou não?», questionou o papa.
Na sessão informal de perguntas e
respostas, o pároco pede a Francisco para falar dos momentos mais belos da sua
vida: «Um momento belo da minha vida era quando, criança, ia ao estádio com o
meu papá; a mamã também ia, algumas vezes, ver o jogo. Naqueles tempos não
havia problemas no estádio, e isso era belíssimo. Aos domingos, depois do
meio-dia, depois do almoço, ir ao estádio e depois voltar a casa. Era
belíssimo, belíssimo».
Uma criança interrompe a evocação das
memórias de Francisco para referir a televisão, e o papa responde: «Não me
agrada, é perder tempo». E retoma o fio à meada: «Outro momento belo da vida é
encontrar-se com os amigos. Antes de vir para Roma encontrávamo-nos, a cada
dois meses, os 10 amigos companheiros de escola que tínhamos terminado o ensino
secundários juntos, terminámos aos 17 anos e continuávamos a encontrar-nos,
sim, cada um com a sua família... Era belíssimo».
«E também um momento muito belo para mim -
de que gosto muito - é quando posso rezar em silêncio, ler a Palavra de Deus:
faz-me bem, gosto muito. São muitos os momentos belos, muitos... Não sei... Que
outros momentos belos posso dizer, há tantos, tantos na minha vida... E
agradeço ao Senhor», acrescentou.
O papa prossegue com um agradecimento sentido
aos catequistas: «O que seria a Igreja sem vós? Vós sois pilares na vida de uma
paróquia, na vida de uma diocese. Não se pode conceber uma diocese, uma
paróquia, sem catequistas. E isto desde os primeiros tempos, desde o tempo após
a ressurreição de Jesus: havia as mulheres que ajudavam os amigos e faziam de
catequistas. É uma vocação belíssima. É uma vocação belíssima. Não é fácil ser
catequista, porque o catequista não só deve ensinar "coisas", deve
ensinar atitudes, deve ensinar valores, muitas coisas, como se vive. É um
trabalho difícil. Agradeço-vos muito, catequistas, pelo vosso trabalho. Muito
obrigado. Obrigado».
Uma criança perguntou ao papa sobre o que
ele pensava das novas tecnologias: «É belo porque hoje podemos comunicar em
todo o lado. Mas falta o diálogo. Pensai nisto, fechai os olhos, imaginai isto:
à mesa a mamã, o papá, eu, o meu irmão, a minha irmã, cada um de nós como o seu
próprio telemóvel, a falar. Todos falam mas falam fora: entre eles não se fala.
Todos comunicam, certo? Sim, através do telemóvel, mas não dialogam. Este é o
problema. A falta de diálogo. E a falta de escuta. Ontem tive uma reunião, veio
ao Vaticano um belo grupo, eram 400, mais ou menos, que pertenciam à associação
"Telefone Amigo" - ouvistes falar disto? É uma associação que está
disposta a escutar: se tu estás triste, se estás em depressão, ou tens um
problema ou uma dúvida, podes ligar-lhes e há sempre uma pessoa disposta a
escutar-te» [cf. Artigos relacionados].
Depois das crianças, Francisco
encontrou-se com idosos e doentes: «Quero dizer-vos simplesmente que a doença é
uma cruz - vós sabei-lo -, mas a cruz é uma semente de vida, e levando-a bem
pode dar-se muita vida a muita gente que nós não sabemos; e depois, no Céu,
saberemos. Agradeço-vos por levardes assim a vossa doença. Estou próximo de vós
e peço-vos também para rezardes por mim, que o Senhor me dê vida espiritual,
que me faça bom, que me fala um bom sacerdote para o serviço dos outros».
A crucificação de Jesus já tinha sido
evocada durante a oração do "Angelus", que Francisco recitou na Praça
de S. Pedro, pelo meio-dia de Itália: «A cruz cristã não é um adorno da casa ou
um ornamento a colocar, mas é um chamamento ao amor com que Jesus se sacrificou
para salvar a humanidade do mal e do pecado. Neste tempo de Quaresma,
contemplemos com devoção a imagem do crucifixo, Jesus na cruz: é o símbolo da
fé cristã, é o emblema de Jesus, morto e ressuscitado por nós. Façamos de
maneira que a Cruz marque as etapas do nosso itinerário quaresmal para
compreender cada vez mais a gravidade do pecado e o valor do sacrifício com o
qual o Redentor salvou todos nós».
Na homilia proferida durante a missa
celebrada na paróquia romana, o papa centrou-se no Evangelho proclamado nas
celebrações eucarísticas deste domingo, em que Jesus se transfigura diante de
três dos seus discípulos: «Pensemos também na beleza do rosto transfigurado de
Jesus que encontraremos no Céu. E que esta contemplação dos dois rostos de
Jesus - o transfigurado e aquele feito pecado, feito maldição - nos encoraje a
andar em frente no caminho da vida, no caminho da vida cristã. Nos encoraje a
pedir perdão pelos nossos pecados, a não pecar tanto. Que nos encoraje
sobretudo a ter confiança, porque se Ele se fez pecado é porque tomou sobre si
os nossos. E Ele está sempre disposto a perdoar-nos. Devemos apenas pedi-lo».
Ao despedir-se, já no exterior da igreja,
Francisco insistiu no apelo que também é uma marca dos seus quatro anos de
pontificado: «Peço-vos para rezardes por mim: preciso porque devo fazer bem o trabalho,
não "assim-assim"; e para o fazer bem, é necessária a vossa oração».
SNPC
Fonte: Intervenções do papa na paróquia de Santa Madalena de Canossa, Roma
Publicado em 12.03.2017
Fonte: Intervenções do papa na paróquia de Santa Madalena de Canossa, Roma
Publicado em 12.03.2017
In:http://snpcultura.org/papa_francisco_fala_dos_momentos_felizes_da_vida_e_do_que_o_assusta.html
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