Onde estão os jovens? Esta é uma interrogação comum nas paróquias católicas de vários países, e em breve os responsáveis da Igreja vão poder entender porque é que tantos deixaram as comunidades eclesiais. Em janeiro o Vaticano convidou os bispos a responderem a um questionário de 20 perguntas sobre os jovens, de modo a preparar o sínodo de outubro de 2018, que se centrará no tema "Jovens, a fé e o discernimento vocacional". O documento sublinha que os episcopados não devem só olhar para os jovens que participam na Igreja, mas também para aqueles que estão afastados.
Nos EUA, um estudo realizado pelo Pew Research Center em 2009 concluiu que entre os católicos que se afastaram da Igreja, 80% optaram por essa decisão antes dos 24 anos. Se os bispos de qualquer país desejarem saber porque é que a juventude se distancia, podem começar por estes. Perceberão que o motivo tem menos a ver com a ausência de crença e mais com o facto de os mais novos quererem uma Igreja em que possam acreditar.
Entre as várias causas apontadas no estudo para o abandono, um número relativamente alto aponta para os ensinamentos da Igreja sobre a sexualidade, com 56% dos inquiridos a declarar que não se sentem bem com ele. Há também 48% das pessoas que saíram da Igreja a relatar que não concordam com o magistério sobre o controlo dos nascimentos.
Uma investigação mais recente, realizada em 2014 pela PRRI, mostra que os jovens católicos sentem que os grupos religiosos são demasiadamente críticos sobre questões relacionadas com a homossexualidade. A percentagem de inquiridos que subscreve esta posição situa-se entre os 56% e os 59%, de acordo com a idade.
A sondagem de 2009 também revela que 39% católicos jovens deixam a Igreja por causa da maneira como os seus responsáveis tratam as mulheres. Mesmo entre os católicos que continuam a participar, uma larga maioria gostaria de ver mudanças para elas.
«Olhando para as sondagens ao longo do tempo, tornou-se muito evidente que a longa lealdade das mulheres em relação à Igreja e compromisso com o catolicismo já não podem ser tomados como garantidos», consideram os autores do livro "American catholics in transition" (Católicos americanos em transição), escrito em 2013 por William D'Antonio, Michele Dillon, and Mary Gautier. Os autores notam uma trajetória em declínio durante os últimos 25 anos cuja intensidade ainda não ocorreu entre os homens.
«Diferentemente das suas avós e mães, as mulheres católicas nascidas após o Concílio Vaticano II [1962-1965] parecem ter menos vontade de dar à Igreja institucional o benefício da dúvida e permanecerem leais à Igreja e ao catolicismo enquanto esperam pela mudança», declaram os sociólogos que redigiram a obra. Para explicar o declínio mais acentuado da presença das mulheres nas comunidades cristãs, os autores avançam a hipótese de se dever ao facto de muitos dos ensinamentos acima mencionados afetarem a personalidade feminina.
É interessante notar que entre os motivos dados pelos católicos para deixarem de participar, no estudo de 2009, não mais de 8% referiram que a Igreja se afastou demasiadamente das práticas tradicionais, como a missa celebrada em latim.
Poder-se-ia pensar que aqueles que deixam a Igreja nunca foram "verdadeiros crentes". Ao contrário, a investigação de 2009 revela que apenas 4% dos inquiridos afirmaram que «não acreditam em Deus/Jesus». As pessoas que cresceram como católicas, quer aquelas que abandonaram a Igreja quer as que ficaram, referem níveis de participação em aulas e grupos, durante a infância, praticamente iguais.
Não estamos a perder jovens católicos que foram batizados e nunca puseram os pés numa igreja; estamos a perder os jovens e jovens adultos que esta semana estão sentados ao nosso lado nos bancos da igreja e poderão não estar de regresso no próximo domingo.
Na minha experiência, tendo trabalhado com muitos jovens adultos católicos durante mais de uma década, aqueles que deixam a Igreja fazem-no muitas vezes para preservar o espírito que neles habita. Os jovens católicos querem agarrar-se à sua integridade e sentem que não podem rezar no altar de uma religião que não pratica o que prega. Outras vezes, a sua razão para abandonarem é precisamente a pregação, quando a mensagem da homilia se torna política ou nociva.
Além de criarem novos programas ou maneiras de atrair os jovens, os responsáveis eclesiais também precisam de responder a algumas das preocupações mais profundas, que incluem injustiças estruturais e ensinamentos nocivos que estão a levar os jovens adultos fiéis para fora das portas da Igreja. Mas ao mesmo tempo muitos, incluindo eu, empenharam-se em ficar.
Por isso, quando ouvir alguém perguntar «onde estão os jovens?», diga-lhe que estamos aqui. Alguns tiveram de abandonar, em boa consciência ou para o seu próprio bem-estar, mas outros decidiram permanecer católicos a longo termo. As razões para ficar são muitas, incluindo o nosso amor pela fé, a nossa gratidão pela tradição e o facto de sabermos que se trabalharmos juntos, podemos criar uma Igreja melhor.
Às vezes esqueço-me, mas tento lembrar-me que estou a seguir o rasto de outro jovem adulto, chamado Jesus: uma pessoa de fé marginalizada que mostrou à sua religião e à sua sociedade que o amor, efetivamente, triunfa - mesmo diante do ódio, mesmo sobre o poder da morte.
Hoje, acredito que muitos jovens católicos adultos estão a tentar, à sua pequena medida, fazer o que Jesus fez: ter a certeza de que o amor firma raízes e cresce nos nossos ensinamentos da Igreja, nas nossas políticas públicas. Talvez nunca antes na minha vida eu tenha sentido um desejo tão grande de permanecer unida ao legado de Cristo, trabalhando para uma sociedade e uma Igreja em que podemos acreditar.
[Nicole Sotelo | In "National Catholic Register" ]
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