Ainda não aprendemos a perder. Na escola ensinam-nos a resolver problemas e a ler nas entrelinhas. Ensinam-nos a ter fé nos sonhos e a acreditar que o conhecimento ajuda a realizá-los. Depois, saímos da escola e compreendemos que não aprendemos nada. Que nos falta tudo e que as nossas mãos não aprenderam a segurar os dias importantes. As pessoas importantes. Aprendemos que as mãos estão abertas demasiadas vezes. Que querem aceitar tudo. Mesmo o que não cabe nelas. Nem em nós. Com os dias que galopam à nossa frente, nasce-nos a consciência de estar às escuras no que é preciso saber para viver bem. Para que escola havemos de ir quando percebemos que não aprendemos o suficiente?! Como é que se começa tudo outra vez?! Não se começa. E a escola ficou, há muito, lá bem para trás.
O que não fica para trás e continua a morder-nos o sossego é essa vontade de aprender. Agora já não tem nada a ver com números, com palavras ou com regras para um jogo do mata. Tem a ver com o que a vida nos pede. E ainda está para nascer quem nos possa ensinar que não podemos aprender tudo. Provavelmente, perderia toda a graça. Todo o encanto. Mas a verdade é que, de vez em quando, dava mesmo jeito saber mais para fazer melhor. Talvez a resposta para o que não está aprendido esteja naqueles que nunca quiseram saber nada. Talvez precisemos todos de desaprender. Querer saber menos de cada coisa. É difícil. Tão difícil. É difícil não ter aprendido alguma coisa que nos faria falta agora mesmo. Por exemplo. Há uma coisa que nos faz falta nunca ter aprendido. Perder. Nunca aprendemos a perder. Como assim?! Claro que aprendemos a perder. Passamos a vida a perder tudo. Pois é. Mas isso não significa que tenhamos, de facto, aprendido a perder. Talvez nos tenhamos habituado a perder. Isso é outra coisa. Aprender a perder nem sequer é pensar na perda como algo inevitável. Aprender a perder... é somar coisas boas a um espaço vazio. E isso... quase nunca conseguimos fazer. Conseguimos multiplicar coisas bonitas. Transformar uma coisa bonita noutra ainda mais bonita. Mas fazer nascer beleza de um espaço que deixou de existir para ser vazio?! Isso é outra história. Não aprendemos a perder. Não vamos aprender a perder. Ninguém aprende a perder. Ninguém memoriza as regras de um jogo porque o quer perder. Eu jogo com uma esperança que nem se aproxima da sombra da perda. Eu aprendo com uma esperança que quase nem conhece a palavra perda. Eu vivo com uma esperança que quer fazer-se estrangeira dos muitos perderes que a vida vai trazer. Eu não sei perder porque não quero. Eu não quero perder. Não quero perder o que é meu, os que são meus, os que me deram, o que me deram, o que ganhei, o que procurei. Sentimos que não merecemos perder e, por isso, não estamos dispostos a aprender a fazê-lo. Se pudermos entender a Vida como uma professora nem sempre simpática será que algum dia estaremos dispostos a pedir-lhe que nos ensine o que não queremos aprender?!
Por Marta Arrais (22-02-2017)
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