A nossa vida é complicada neste momento, não
é?
Nós não queremos que seja. Mas neste momento é.
Trabalhamos para ser pagos para pagarmos contas e parece que há sempre
mais meses do que dinheiro. Temos duas pessoas muito pequeninas que parecem
nossos chefes, enquanto nos esforçamos por manter o controlo. Somos empurrados
de tantas maneiras que, por vezes, damos por nós e estamos em lados opostos.
Acabamos por discutir. Discutimos sobre as
decisões parentais e também sobre “quem é a vez de trocar a fralda”. Discutimos
sobre dinheiro e sobre as vezes que escolhemos ir almoçar fora na semana
passada. Discutimos sobre a roupa para lavar e passar e sobre a limpeza da
casa. Discutimos sobre coisas estúpidas que, eventualmente, acabamos por nos
desviar do tema e discutimos sobre outras coisas à mistura.
Isto é exaustivo. Exigimos demais de nós
próprios. Horários para tudo, programas com a família, obrigações, milhares de
copos de sumo de laranja entornados na carpete. Rotinas de biberão de leite e
idas à casa de banho às 6h da manhã. Dizer que não a pedidos de lanche 15
minutos antes o jantar, e ter de dizer que não vezes consecutivas ao longo dos
quinze minutos. E quando finalmente consigo sentar-me pela primeira vez em duas
horas, já há alguém a precisar da mãe outra vez. Às vezes é difícil respirar
fundo, muito menos conseguir uma pausa para fazer xixi sem interrupções.
Nós sentamo-nos muito, em frente do outro, em
silêncio. Não porque não temos nada para falar, mas simplesmente porque estamos
cansados de falar. Às vezes eu apercebo-me de que há coisas importantes que não
te disse, simplesmente porque não calhou. Eu tenho saudades da proximidade que
tínhamos quando apenas falávamos sobre nós e consumíamos o nosso tempo um com o
outro. Neste momento, dormir é melhor do que sexo e jogar jogos no telemóvel é
mais relaxante do que conversar.
Isso não é para dizer que eu sou infeliz. Esta é a
vida com que sempre sonhamos. Não há nada nem ninguém no mundo que eu ame mais
do que a ti e aos nossos filhos. A exaustão das nossas vidas é melhor do que
qualquer coisa que eu consigo imaginar.
Mas o meu coração anseia por ti mais do que ninguém.
E eu sei que é tão difícil agora. Mas estou-me a
aguentar.
Porque eu vou precisar de ti.
Eu vou precisar de ti para me dizeres que vai ficar
tudo bem quando eu chorar no primeiro dia de jardim de infância de um
dos nossos filhos. Eu vou precisar de ti para me abraçares quando receber algum
telefonema com más notícias.
Eu vou precisar que me conduzas de volta quando formos
deixar os nossos filhos à universidade e eles saírem de casa. E que me
convenças a não ir a correr salva-los sempre que tomem uma decisão que eu
considere errada.
Eu vou precisar de ti para me dares a mão quando
estivermos juntos no banco da igreja no casamento dos nossos filhos. E eu vou
precisar de ti para dançar comigo toda a noite. E eu vou precisar que me
abraces nessa noite enquanto eu me recordar de todas as memórias da vida dos
nossos filhos e estiver lavada em lágrimas porque passou tudo a correr!
Vou precisar de ti quando eu já não tiver tantos
compromissos. Quando não tiver ninguém aos gritos por sumo de laranja ou
a chorar sobre os dinossauros não-existentes que vivem em seus armários. Quando
já não tiver biberões para lavar e brinquedos para pisar. Quando eles
só aparecerem aos fins-de-semana, e em vez de trazerem uma mala de roupa
suja, trouxerem os nossos netos. Eu vou precisar que me compres um baloiço para
o alpendre e vou precisar que te sentes ao meu e me lembres como somos gratos
pela vida que temos.
E entre tanta coisa que irei precisar de ti, fica já a
saber: eu quero-te comigo. Eu quero-te sempre comigo em todos os passos da
minha vida.
Se agora nos sentamos um em frente ao outro num silêncio
constrangedor enquanto esperamos esta fase da vida passar, isto é bom. Eu vou
estar sempre sentada ao pé de ti para que saibas que não vou a lado nenhum. Até
posso dar-te a mão. Claro, com a mão livre que não está a jogar Candy Crush.
Eu amo-te, e eu vou continuar a amar-te apesar de
tudo. Para lá de tudo.
O silêncio é bom, desde que eu esteja contigo!.
Por Katie Parrish publicado
originalmente em foreverymom
Traduzido e adaptado por Up To Kids®
In: http://uptokids.pt/opiniao/carta-ao-meu-marido-nesta-fase-complicada-do-casamento/
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