Quando acaba o amor no casal é preciso «não condenar» nem «fazer casuística», mas «caminhar» com ele, diz papa
O papa vincou na última sexta-feira, no Vaticano,
que a Igreja tem o dever de acompanhar os membros de um casal que deixam de
estar unidos pelo amor, em vez de os criticar ou de os analisar à luz de
argumentos subtis.
«[Quando] o amor fracassa, porque muitas vezes
fracassa, devemos sentir a dor do fracasso, acompanhar as pessoas que tiveram
este fracasso no próprio amor. Não condenar. Caminhar com eles. E não fazer
casuística com a sua situação», vincou Francisco, segundo a Rádio Vaticano.
As palavras do papa foram proferidas na homilia da
missa a que presidiu, intervenção baseada no Evangelho proclamado nas
eucaristias de hoje (cf. Artigos relacionados), em que um grupo de fariseus
pergunta a Jesus se um homem pode repudiar a sua mulher.
«Sempre o pequeno caso. E esta é a armadilha: por
trás da casuística, por trás do pensamento casuístico, há sempre uma armadilha.
Sempre. Contra as pessoas, contra nós, contra Deus, sempre», vincou.
A resposta de Jesus, que se desloca «da casuística
para o centro do problema» e para o «início da revelação» bíblica, começa por
explicar o motivo pelo qual no Antigo Testamento era permitido o repúdio, mas
logo a seguir aponta para a intenção originária de Deus a respeito do ser
humano.
«No princípio da Criação, “Deus fê-los homem e
mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os
dois serão uma só carne”. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, não separe o homem o que Deus uniu», lê-se no Evangelho segundo S.
Marcos, citado por Francisco.
Para o papa, a união entre homem e mulher é imagem
do «amor» que Deus «tem para com o seu povo», como S. Paulo vai desenvolver
mais tarde, ao explicitar que «Cristo desposou a Igreja».
«Como o Pai tinha desposado o Povo de Israel,
Cristo desposou o seu povo. Esta é a história do amor, esta é a história da
obra-prima da Criação. E diante deste caminho de amor, deste ícone, a
casuística cai e torna-se dor», assinalou.
Perante esta imagem, Francisco voltou a salientar
que «não se pode compreender Cristo sem a Igreja, e não se pode compreender a
Igreja sem Cristo».
O Evangelho de hoje é fonte que inspira a meditação
no «caminho de amor do matrimónio cristão, que Deus abençoou na obra-prima da
sua Criação», bênção «que nunca foi tirada», já que «nem mesmo o pecado
original a destruiu».
A leitura bíblica, prosseguiu o papa, permite
observar «quão belo é o amor, quão belo é o matrimónio, quão bela é a família»,
ao mesmo tempo que realça a «proximidade» que a Igreja deve ter «pelos irmãos e
irmãs que na vida tiveram a desgraça de um fracasso no amor».
A homilia terminou com Francisco a pedir a Deus «a
graça» de nunca se cair nas «atitudes casuísticas dos fariseus, dos doutores da
lei».
Rui Jorge Martins
In:http://www.snpcultura.org/quando_acaba_amor_no_casal_preciso_nao_condenar.html
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