«Que tristeza! Perdão, irmãos!»: Papa critica tentativa de uniformizar cultura e reitera que família é essencial
O papa celebrou esta segunda-feira a missa com as comunidades indígenas de Chiapas, no México, tendo lamentado e pedido desculpa pela exploração e o menosprezo a que foram votadas ao longo dos séculos por parte dos colonizadores.
«Muitas vezes, de forma sistemática e estrutural, os vossos povos acabaram incompreendidos e excluídos da sociedade. Alguns consideram inferiores os vossos valores, a vossa cultura e as vossas tradições. Outros, fascinados pelo poder, o dinheiro e as leis do mercado, espoliaram-vos das vossas terras ou realizaram empreendimentos que as contaminaram. Que tristeza! Como nos seria útil a todos fazer um exame de consciência e aprender a pedir perdão! Perdão, irmãos!», declarou.
Na celebração que decorreu em San Cristóbal de Las Casas, Francisco criticou a «cultura do descarte» que procura consolidar uma visão única do mundo, e que para esse efeito procura eliminar as multiformes expressões de pensamento e expressão artística que estiveram na origem e na identidade de comunidades e países.
«Os jovens de hoje, expostos a uma cultura que tenta suprimir todas as riquezas e características culturais tendo em vista um mundo homogéneo, estes jovens precisam que não se perca a sabedoria dos vossos anciãos. O mundo de hoje, prisioneiro do pragmatismo, tem necessidade de voltar a aprender o valor da gratuidade», vincou.
Francisco acentuou que «no coração» do ser humano e «na memória» de muitos povos «está inscrito o anseio por uma terra, por um tempo em que o desprezo seja superado pela fraternidade, a injustiça seja vencida pela solidariedade e a violência seja cancelada pela paz».
«De muitas maneiras e de muitas formas se procurou silenciar e cancelar este anseio, de muitas maneiras procuraram anestesiar-nos a alma, de muitas formas pretenderam pôr em letargo e adormecer a vida das nossas crianças e jovens com a insinuação de que nada pode mudar ou trata-se de sonhos impossíveis», acrescentou.
Perante «uma das maiores crises ambientais da história», diante da qual não é possível «permanecer indiferentes», as comunidades indígenas, sustentou Francisco, têm muito «a ensinar à humanidade».
Durante a tarde, o papa deslocou-se a Tuxla Gutiérrez, onde se encontrou com famílias. Esperado por 50 mil pessoas – as multidões têm feito parte da viagem do papa ao México -, Francisco escutou quatro testemunhos antes de salientar, no seu discurso, a atualidade e a beleza da família, que vence o isolamento e dá coragem para recomeçar, relata a Rádio Vaticano.
A primeira intervenção foi de Manuel, criança em cadeira de rodas por ter sido atingido pela distrofia muscular, tendo-se seguido um casal que celebra 50 anos de matrimónio, uma mulher casada civilmente por causa do divórcio anterior e que se colocou ao serviço dos mais pobres, e, por fim, uma mãe solteira várias vezes tentada pela ideia de abortar devido à solidão em que vive, mas que optou sempre por escolher a vida.
Dirigindo-se à mãe solteira, Francisco realçou que a forma de combater a «precariedade» e o «isolamento» deve ser concretizado a vários níveis: «Um é através de leis que protejam e garantam o mínimo necessário, a fim de que cada família e cada pessoa possa crescer através do estudo e de um trabalho digno».
«Hoje vemos e vivemos em diversas frentes como a família é enfraquecida e colocada em discussão. Como se crê que ela seja um modelo já ultrapassado e incapaz de encontrar lugar no interior das nossas sociedades que, sob o pretexto da modernidade, favorecem cada vez mais um sistema baseado no modelo do isolamento», frisou.
Ainda que viver em família nem sempre seja fácil, continuou o papa, não se deve resistir, mesmo que a realidade nem sempre corresponda aos sonhos.
«Prefiro uma família ferida que cada dia procura conjugar o amor, a uma sociedade doente pelo fechamento e a comodidade do medo de amar. Prefiro uma família que uma vez após outra procura recomeçar a uma sociedade narcisista e obcecada pelo luxo e pela comodidade. Prefiro uma família com o rosto cansado pelos sacrifícios às caras maquilhadas que não sabem o que é a ternura e a compaixão», afirmou.
Esta terça-feira Francisco desloca-se, de avião, até Morelia, 300 km a oeste da capital, onde preside à missa com padres, religiosos, consagrados e seminaristas. Durante a tarde visita a catedral e encontra-se com jovens, antes de regressar à Cidade do México, naquela que será a sua última noite na capital mexicana, já que no final do dia de amanhã regressa ao Vaticano.
Rui Jorge Martins
Publicado em 16.02.2016
in http://www.snpcultura.org/papa_critica_uniformizacao_cultura_e_reitera_que_familia_e_essencial.html
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