Iniciamos, hoje, um caminho profundamente Cristão,
belo, de observação e atenção, buscando os pormenores, procurando o novo... Essencialmente
isto: um tempo sobretudo de procura do novo.
Contudo, hoje, também começamos um caminho, em parte
abandonado, esquecido, sem pés que o trilhem, sem caminhantes que o façam
verdadeiro caminho. Começa hoje um caminho que talvez já não seja caminho.
Estamos a falar do advento, que hoje se inicia com o
seu primeiro Domingo. O Tempo de Advento, período litúrgico que antecede o
Natal, realmente começa hoje. O roxo dos paramentos, alguma sobriedade nos
ornamentos, mostra visivelmente que um tempo novo começou.
Mas temos de dizer que se o Tempo começa o Caminho já
não é bem assim. O Caminho de Advento, que nos leva ao Natal de Jesus Cristo,
ao verdadeiro Natal, está muito esquecido e abandonado.
Falamos hoje de famílias com natal mas sem advento.
Já há mais de uma semana que nos centro comerciais, nas
lojas, nas publicidades o tema natal
está fortemente presente. As luzes, os embrulhos, as campanhas, os chocolates
nas entradas das superfícies comerciais, apenas nos querem dizer uma única
coisa: já é natal!
Nas ruas as iluminações, as decorações. Nas casas, a
figura do Pai–Natal, trepando chaminés soam no nosso inconsciente como um forte
grito que diz: já é natal!
Enquanto compramos, embrulhamos, decoramos, acedemos
luzes o nosso inconsciente vai gritando: já é natal!
E assim temos, de forma fácil, inconsciente, até mesmo
sem culpa, famílias que vivem o natal sem celebrarem advento. Ou melhor
experimentam natais sem caminharem em advento.
Às famílias dizemos hoje, tentado ombrear com este
forte grito de quem nos diz que já é
natal, que ainda não é Natal. Famílias,
agora é tempo de gritar: é Advento. É hora de dizer: preparemo-nos,
vigiemos, procuremos o novo, o belo, porque sem caminho de advento não há
verdadeiro Natal.
Talvez seja um defeito dos nossos tempos, queremos
atingir metas sem percorrer caminhos. Mas não nos enganemos, não há Natal
como meta, sem advento como caminho.
Desculpem este desabafo mas se em família queremos
viver o Natal de Jesus Cristo, em Família temos de viver o Advento do mesmo
Jesus Cristo.
Deixamos então três sinais de pista para quem,
sobretudo em família, queira colocar pés ao caminho e fazer do advento um
caminho para o Natal. O Orante, o Procurador e o anunciador. Apresentamos estas
pistas na forma de três personagens que prefiguram três atitudes simples mas
regeneradoras e capazes de produzir verdadeiro Natal.
1.
O Orante – esta pista é-nos apresentada na
figura daquele que encontra na oração um ritmo certo, que permite ir longe,
chegar à meta, mas fazendo o caminho passo a passo, aproveitando e saboreando
cada pegada que vai deixando no caminho. Este ritmo pode ser encontrado nos
passos de cada um dos quatro domingos do advento. Sobretudo com a escuta da
palavra de Deus, dada por graça e de graça, em cada Eucaristia dominical, na
reunião da família paroquial.
Pode e deve também ser encontrado um ritmo
de oração em família, Igreja doméstica, dentro de casa, na mesa de almoço e
jantar. No conforto do sofá ou até mesmo no aconchego da cama. Trata-se aqui de
momentos simples, que poderão ir desde um simples obrigado jesus pelos alimentos, ou da oração dos Filhos de Deus, o Pai-Nosso, até à leitura e escuta da
Palavra de Deus, proposta na liturgia diária, e porque não até experimentar e
redescobrir o exercício de relaxamento mais antigo que existe, que é oração do
terço em família, olhando Maria como figura impar deste caminho de Advento.
2.
O procurador – esta pista é-nos apresentada pela
figura daquele que assume uma atitude de busca do essencial. E o essencial é
Jesus, o menino Deus. Esta atitude de procura exige a nossa condição de
vigilantes, de cabeça erguida como quem procura algo de preciso. Exige estar
atentos a tudo o que nos rodeia, em casa, no trabalho, ou na rua. Olhar tudo
como se fosse a primeira vez. Olhar tudo como quem olha uma paisagem nova
buscando no horizonte no mais próximo os pormenores, as essências, as texturas
os sabores os cheiros. Buscando em tudo e em todos: Jesus. Significa essencialmente
estarmos atentos a nós mesmos, ao nosso interior, para redescobrir os lugares
onde Deus ainda não habita a nossa vida. Preparando-os para que, quando chegarmos
à meta do Natal, Ele possa habitar esses lugares ainda vazios de Deus.
Significa, com carácter de urgência, estarmos atentos às feriadas das nossas
famílias, provocadas pela desidratação da ausência de Deus. Esgaravatando, sim
esgravatando, este caminho de Advento, na procura de Jesus, o curador ferido,
que sara as nossas feridas.
3.
O anunciador – a última pista é-nos apresentada
pela figura, que assumindo as duas anteriores refiras - orante e procurador - sai
com a consciência de discípulo anunciador. Parte em missão, impelido pela
inquietação do seu coração, que não pode mais guardar para si esta grande
notícia: O menino que vai nascer é o meu Salvador. Neste advento temos para as
Famílias um desafio concreto que pretende marcar o anúncio dentro e fora de
casa. Sugerimos a imagem da janela, aquele lugar da casa que é comunicação
contante com o exterior, e ao mesmo tempo com o interior. A Janela que tem dois
lados translúcidos, que permite o interior visualizar e anunciar ao exterior e
permite ao exterior ser anunciado e comunicar com o interior. Desafiamos as
famílias a colocarem nas janelas de suas casas temas cristãos, imagens do
verdadeiro natal. Pintando, colando, fazendo presépios à Janela. Com isto cada
casa, cada família, anuncia aos outros, a este imenso mundo exterior, que
caminha em advento para o Natal. Ao mesmo tempo anuncia a si mesmo, pois todos
os dias quando olha pela janela está a fazer com que o seu olhar olhe o
horizonte, olhe a sua rua, olhe os seus vizinhos, olhe a si mesmo, anunciando o
seu natal, o Natal de Jesus Cristo.
E assim deixamos três pistas para que as nossas
famílias não corram o risco de celebrar Natal sem viver o Advento. Assim
faremos do Advento não só um tempo, mas um verdadeiro caminho, que tem pegadas
humanas, pegadas familiares, pegadas de pessoas concretas que rezando, procuram
e anunciam a meta: Jesus menino.
Só assim faremos com que não nos roubem o Natal de
Jesus Cisto. Só assim poderemos gritar e anunciar no próximo dia 25 de
Dezembro: Hoje é verdadeiro Natal.
Vítor
Araújo
28 Nov.
2015
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