No
domingo passado, um dos meus filhos perguntou-me à queima-roupa: «Porquê esse
Sínodo era tão importante? Três semanas para dizer o quê?»
Eu
aceitei o desafio, tentando não "cair na fácil repetição do que é
indiscutível ou já foi dito", ou tentando não usar "uma linguagem
arcaica ou simplesmente não compreensível", em nove pontos.
1) A
Igreja do Papa Francisco ama os homens e as mulheres de hoje, com as suas
qualidades (a sua busca de liberdade e credibilidade) e com os seus defeitos (o
individualismo e a falta de planeamento em que muitas vezes se atolam as
relações entre as pessoas); e assim também as famílias. Na Igreja, porém, há os
nostálgicos, ou seja, aqueles que voltam o olhar para o passado, imaginando-o
como um paraíso perdido e pensando que podem empurrar os ponteiros do relógio
para trás ao som de batalhas e de slogans.
2) O
Sínodo não se escandalizou sobre o facto de haver desacordo, mas trabalhou
intensamente para chegar a uma convergência, uma arte que é preciso saber
exercer com paciência (e sabedoria): o que significa, por um lado, que é melhor
um bom acordo geral do que uma derrota sobre alguns aspetos específicos; e, por
outro, que isso leva tempo. Mas hoje estamos todos um pouco impacientes.
3)
Construir o consenso significa fazer com que as pessoas se encontrem, antes que
as suas ideias, e fazer com que cada um mostre o rosto: a isso visavam os
trabalhos em grupo que duraram três longas semanas. A escuta das razões do
outro – se de boa fé – faz com que sempre se dê um passo à frente do qual não
se pode retroceder. As cartas (legítimas) que circularam dentro do Sínodo e na
imprensa, um pouco menos. As tentativas "conspirativas", em nada.
Isso significa viver a sinodalidade em que Paulo VI pensava depois do Concílio
Vaticano II.
4)
Por isso, é apreciável o trabalho do Sínodo, mesmo quando ele não disse uma
espécie de "sim" à Eucaristia para todos, como se fosse um direito a
se reivindicar ao som de maiorias (que, talvez, alguns Padres sinodais pensavam
que podiam governar), mas deixou claro que "o primeiro dever da Igreja não
é o de distribuir condenações e anátemas, mas proclamar a misericórdia de
Deus". O papa, durante o Ano da Misericórdia, vai esclarecer melhor como;
mas, já a partir de agora, reiterou, longa e largamente, que não se pode
"julgar com superioridade e superficialidade os casos difíceis e as
famílias feridas".
5)
Eu teria esperado uma palavra a mais sobre a homossexualidade, mas a
"saída do armário" do Mons. Charamsa encerrou a discussão. Eu teria
gostado de ver o tema inserido naquele bem mais amplo da sexualidade, que,
teoricamente, não cria problemas, mas, nos fatos, ainda cria muitos embaraços
na vida e no sentimento da Igreja (o mundo, enquanto isso, está em outro
lugar). O tema – filosófico – da diferença precisa ser mais bem compreendido.
6) O
Sínodo não disse muitas coisas sobre o tema do "gender" (senão,
limitando-se a uma compartilhável rejeição de tudo o que é ideológico), mas
escorregou em uma questão de "gênero" quando decidiu não dar o voto
às três superioras religiosas, eleitas assim como os seus colegas homens. Uma
decisão clerical que poderia ter sido poupada.
7)
Foi reafirmada a importância das Igrejas locais. Elas são governadas não só
pelo princípio segundo o qual, onde uma coisa pode ser decidida pelo nível
inferior, o maior cede o lugar; mas também pelo outro, segundo o qual elas são
Igreja assim como a "de Roma". No Sínodo, viu-se que "aquilo que
parece normal para um bispo de um continente pode ser estranho, quase como um
escândalo, para o bispo de outro continente; o que é considerado violação de um
direito em uma sociedade pode ser preceito óbvio e intangível de outra; o que
para alguns é liberdade de consciência, para outros, pode ser apenas confusão.
Na realidade, as culturas são muito diferentes entre si, e todo princípio geral
precisa ser inculturado, se quiser ser observado e aplicado". Isto é, o
Evangelho não é aplicado com formulinhas abstratas, mas transformando
"pacífica e gradualmente as várias culturas".
8)
Os leigos – isto é, todos os batizados – são mais uma vez encorajados a levar o
seu próprio testemunho. É verdade que, na Igreja, eles não tem uma
"representação" própria (as associações e os movimentos são uma
forma, mas não completa), e o Sínodo é feito "de bispos" (o que
também se poderia discutir). Mas o fermento posto na massa não espera o comando
do cozinheiro para começar a agir.
9)
Último. O consenso também se constrói sobre os textos. Com a interpretação e a
revisitação de ideias expressadas por meio de palavras. É cansativo ler,
debater, procurar as fontes e as fontes das fontes. Na embriaguez das tantas
palavras gastas em torno do Sínodo, é preciso fazer o esforço de ler, ler e ler
novamente. Dentre outras coisas, o documento final dessa assembleia é um dos
mais bem sucedidos desse tipo de reunião.
in http://fraternitasmovimento.blogspot.pt/2015/10/o-sinodo-dos-bispos-sobre-familia.html
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