A
sociedade moderna está marcada pela palavra. Fala-se para comunicar, exigir,
criticar, denunciar, propor, reclamar. Fala-se presencialmente, com calma ou
gritando, ou virtualmente, escondendo o rosto ou a identidade. São diversas as
ocasiões e as modalidades para usar da palavra oportuna ou inoportunamente.
O Natal,
por sua vez, é tempo de contemplar, de “tomar conta da Palavra para que Ela
tome conta de nós”. A Palavra com letra maiúscula ou, se preferirmos, o Verbo
que se fez homem e veio habitar connosco (cf. Jo 1, 14). O nascimento de Cristo
significa, por isso, o apelo a uma palavra diferente da nossa parte. Uma
palavra vinculada a Cristo, inspirada nos gestos e nas ações que Ele realizou, uma
palavra que seja testemunho para a sociedade.
Neste
período natalício, como gostaria de verificar que as palavras dos políticos não
fossem mero balbuciar de sons sem correspondência existencial. Como seria bom
que a comunicação social não se vendesse a interesses mas optasse coerentemente
pela verdade. Como o mundo seria diferente se a transparência permeasse os
diálogos das pessoas. O Natal exige que as palavras tenham correspondência com
acções. As palavras valem se tiverem suporte nas obras. As obras são a
linguagem que todos entendem. Obras de amor e de justiça precisam-se! Deixemos,
então, que elas falem e a sociedade será outra.
Que o
nosso olfacto seja sensível aos odores vindos dos mais diversos dramas da
humanidade. Que as nossas mãos toquem as mãos de quem sofre e espera respostas.
Que a nossa vida se identifique com a
vida do próximo e as suas interpelações.
Tocados
pela necessidade de agir para o bem dos outros, sejamos o “abraço de Deus” que restitui
a dignidade humana e dá resposta às mais variadas necessidades materiais e
espirituais que surgem de improviso.
+ Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
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