Todos
os olhos estão postos no sínodo que o Papa Francisco promoveu. Muitas têm sido
as reflexões e as discussões sobre os verdadeiros objectivos do sínodo.
A
partir do inquérito inicial começaram a vislumbrar-se as diferenças e as
divergências. Para iniciar os trabalhos, o Papa Francisco convocou um consistório
entre os dias 21 e 22 de fevereiro do corrente ano. A convite do Santo Padre, o
cardeal Walter Kasper apresentou algumas
propostas que reclamavam “uma aplicação realista da doutrina à situação atual
da grande maioria dos homens e para contribuir para a felicidade das pessoas” (‘O
Evangelho da Família’). Contudo, esta proposta recebeu duras críticas do
cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. No
jornal do Vaticano reafirmou a sua posição escrevendo: os que vivem num estado
de vida contrário à “indissolubilidade” do Matrimónio estão impedidos de
receber a Comunhão.
Estava
claro, desde o início, que o sínodo não ia ser fácil. Este é um sínodo para
incomodar e desinstalar.
A complexidade humana da família hodierna traz consigo
múltiplas equações. E o caminho a fazer não se vislumbra sem o diálogo nem a
reflexão. Da discussão nascerá a luz.
Por
isso, o Papa Francisco, consciente das diferentes posições, pede inteligência,
coragem e amor para enfrentar "os desafios pastorais da família no
contexto da evangelização".
Na
eucaristia inaugural do sínodo, no passado domingo, não alheio a todas as
polémicas sobre o sínodo, o Papa explica
que as «assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e
originais, nem para ver quem é mais inteligente». «Servem para cultivar e
guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projeto de
amor a respeito do seu povo. Neste caso, o Senhor pede-nos para cuidarmos da
família, que, desde os primórdios, é parte integrante do desígnio de amor que
ele tem para a humanidade», explicou o Santo Padre.
Francisco
vai mais longe e afirma: «O sonho de Deus embate-se sempre com a hipocrisia de
alguns dos seus servidores». E avisou que «podemos frustrar o sonho de Deus, se
não nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo». Ele pede que os responsáveis da
Igreja trabalhem com “liberdade, criatividade e diligência” em favor das
famílias.
Creio
que não podemos passar ao lado deste grande acontecimento da Igreja e do Mundo.
Também nós nos devemos desinstalar e incomodar não só com as divergências dos
cardiais, mas sobretudo com o que se passa com a família. E não podemos fechar
os olhos às afrontas e às adversidades pelas quais a família passa. É um
problema social e cultural. Estamos a perder o sentido cultural do que
significa uma família. E quando esta sucumbir não teremos mais esta micro
sociedade educativa e formativa. A responsabilidade é de todos. Não podemos deixar
que a subcultura da morte, que privilegia o capricho, o individualismo, a
autossuficiência, a irresponsabilidade e o descompromisso, tome lugar e vá à
frente com a destruição da humanidade.
Se
não levarmos a sério tudo o que significa a família, há o risco de ficarmos
frustrados com este sínodo porque não resolveram o problema da Comunhão e
Confissão aos que se encontram recasados ou em união de facto... Apesar de
serem assuntos por demais importantes e a precisar de um olhar acolhedor,
misericordioso, justo e caridoso, eles não são o centro dos objetivos do
sínodo. No centro da reflexão está a família. Ela é o ponto de convergência.
Também deve ser o nosso.
Pa.e Francisco Carreira
Equipa Arciprestal da Pastoral Familiar de Vila Nova de Famalicão
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