Pensar a morte,
pensar a vida: a morte só pode ser vivida em «primeira-mão», ela toca-nos
porque está presente em outrem que amamos, e daí nos chama à responsabilidade,
à nossa condição de criaturas.
Estar «às portas
da morte» significa aproximar-me do «a-Deus».
Este «a»
significa abertura, acolhimento, aproximação de Deus. Significa também a
saudação de despedida àquele que parte. No «adeus» separamo-nos do mundo onde
fomos acolhidos e é sempre a outrém, ao outro, a começar pelos familiares e
amigos, que devemos essa lembrança. A morte é sempre vivida por quem permanece
vivo, como experiência misteriosa que abre as portas do infinito, porque quem
parte, esse rosto agora transformado em máscara, por força de uma ausência que
dói, de uma partida sem retorno, abre-nos ao mistério e à transcendência. Esse
é o facto mais importante que decorre da nossa relação com a morte: pensar a
minha vida como vida para o outro.
Carregar o luto é
carregar a “santidade do outro” ausente e abrir ainda mais as portas ao outro
presente, o único caminho verdadeiramente humano.
O Apóstolo João escreveu: “Nós sabemos que
passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos”.
(Original Publicado na "morreste-me - a
morte e a esperança cristã" de Novembro de 2010, Secretariado Diocesano da Pastoral da Cultura, Porto)
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