O
Sínodo deixa a mensagem de uma Igreja que busca. Mas não como quem
sabe aonde quer ir, não como quem prossegue às apalpadelas, não como quem
perdeu a adesão à realidade, mas como quem não se cansa de "buscar o reino
de Deus e a sua justiça" (cf. Mt 6, 33). Uma Igreja, portanto, que,
consciente da sua própria inadequação e dos pecados dos seus membros, busca a
cada dia uma única coisa: como ser mais fiel ao Evangelho de Jesus Cristo.
O
Sínodo extraordinário sobre a família terminou nesse domingo com uma liturgia
eucarística e a beatificação de Paulo VI. Nesse sábado, três textos
apareceram: a tradicional mensagem conclusiva, como saudação e gesto de
partilha, enviado "a todas as famílias dos diferentes continentes e, em
particular, àquelas que seguem a Cristo"; o relatório
conclusivo, votado pelos bispos, com a inédita indicação dos votos favoráveis e
contrários expressados para cada parágrafo, relatório que, por vontade do papa,
torna-se também o documento preparatório – os Lineamenta–
para o próximo Sínodo sobre a mesma temática, que ocorrerá em Roma em
outubro próximo. Por fim, o discurso do Papa Francisco dirigido
aos padres sinodais ao término do dia.
A
partir desses três textos, de natureza diferente e complementar, emerge uma
única mensagem não escrita, deixada pelo Papa Francisco e
pelos bispos reunidos em sínodo em torno dele. Não uma hipotética mensagem
alternativa, não um "espírito" do Sínodo, contraposto a uma
"letra" dos textos, mas uma imagem que a Igreja Católica quis dar de
si mesma e que, a julgar pela atenção que lhe foi reservada pela mídia,
conseguiu transmitir.
É
a mensagem de uma Igreja que busca. Mas não como quem sabe aonde quer ir, não
como quem prossegue às apalpadelas, não como quem perdeu a adesão à realidade,
mas como quem não se cansa de "buscar o reino de Deus e a sua
justiça" (cf. Mt 6, 33). Uma Igreja, portanto, que, consciente da sua
própria inadequação e dos pecados dos seus membros, busca a cada dia uma única
coisa: como ser mais fiel ao Evangelho de Jesus Cristo.
É
uma mensagem coral de grande liberdade interior, aquela liberdade que o Papa
Francisco pediu e deu a todos os bispos: liberdade de manifestar sem
medo ou hesitação aquilo que, no seu coração e na sua consciência, o evangelho
de Jesus Cristo anuncia sobre a sexualidade, a família e as histórias de amor
de homens e mulheres no seguimento Jesus.
Sobre
isso, o testemunho foi unânime: máxima transparência, plena liberdade de
expressão, até manifestar também duras contraposições. Não foi uma aposta, mas
uma intuição profética do Papa Francisco: não só deixar que todos os bispos
falassem com ordem e coerência, mas exortá-los ao debate, favorecer o
aprofundamento da discussão, permitir que cada intervenção individual não fosse
desligada da contribuição oferecida dos outros.
Uma
liberdade de expressão, de correção fraterna recíproca da qual também, e talvez
sobretudo, puderam gozar os expoentes daquela que as votações, depois,
mostraram ser uma clara minoria.
Sim,
na Igreja, o processo de discernimento da vontade do Senhor pode ser fatigante,
às vezes pode até passar pela polémica mas sempre deve ser ditado
pela obediência ao evangelho e a nada mais do que o evangelho. Assim, o debate
não foi sobre a indiscutível doutrina da indissolubilidade do matrimónio cristão:
sobre esta – que deveria ser chamada de "fidelidade à palavra dada perante
o Senhor" –, a Igreja não pode mudar nada, por ser fundada sobre as
próprias palavras de Jesus, mas o que se discutiu no Sínodo foi entender com
quais meios a misericórdia de Deus pode alcançar aqueles que pecaram, até lhes
oferecer um viático no seu caminho rumo ao reino, depois de ter constatado o
seu arrependimento e a seriedade do compromisso no seguimento cristão.
Sobre
esse aspecto, a contraposição também foi de natureza cultural: ninguém falou da
possibilidade de administrar novamente um sacramento que possa contradizer ou
cancelar "o que Deus uniu". Ao contrário, é precisamente sobre essa
ação de Deus que se interrogaram, para entender se sempre se verificou que os
cônjuges estavam animados pela fé nessa aliança decretada por Deus, para
assumir o sofrimento daqueles que viram morrer um amor e tentaram recomeçar
lealmente um novo caminho de fidelidade.
Não
foi a doutrina que foi questionada, mas sim a atitude de misericórdia da
Igreja. Em todo o caso, deve-se reconhecer que as duas abordagens aparentemente
contrapostas tiveram a possibilidade de se expressar e de conhecer diretamente
as motivações recíprocas, de modo que todos tiveram a oportunidade de fazer um
esforço comum para reler a vontade do Senhor no hoje da história.
O
documento final indica, então, uma pista de busca e de trabalho: não coloca a
palavra "fim" na discussão, mas indica para ela um estilo novo,
marcado por respeito, escuta, humildade. Aquelas mesmas virtudes humanas e cristãs
que reencontramos no discurso conclusivo do Papa Francisco, que,
embora reiterando o carácter decisivo da sua própria autoridade, se apresenta
explicitamente como "servo dos servos de Deus" e chama novamente os
irmãos no episcopado à obediência ao evangelho, advertindo-os sobre as
tentações que ameaçam a todos e a cada um, e reconfirmando-os na fé.
Sim,
dos trabalhos desses dias e das palavras que os relatam, é possível esperar que
os homens e as mulheres de hoje e de amanhã sejam ainda atraídos pelo
"perfume de Cristo", sejam fascinados pelo Filho de Deus
que veio para os doentes e os pecadores, morto e ressuscitado por todos, sejam
capazes de dar-lhe testemunho com as suas pobres vidas, mediante a grandeza e
as misérias da sua vida familiar quotidiana.
A
opinião é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado no jornal La
Repubblica, 19-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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