A polémica
se centra excessivamente na questão da comunhão para divorciados novamente
casados, mas você sabe quais são os objetivos do sínodo?
Focalizar é reduzir. Os debates que precederam o sínodo
da família se cristalizaram na questão do acesso dos divorciados novamente
casados à comunhão sacramental, mas não mostraram os objetivos deste sínodo.
É verdade
que a questão não é secundária, porque detrás dela se esconde a da
indissolubilidade do matrimónio sacramental. Mas este tema ocupa apenas um
lugar muito pequeno (só 3 dos 159 artigos) no Instrumentum laboris que
servirá de base para os trabalhos dos padres sinodais.
A Igreja, hospital de guerra
Os bispos
tenderão menos a debater sobre o casamento que sobre a família, como indica
claramente o tema do sínodo (que às vezes é esquecido): “Os desafios pastorais
da família no contexto da evangelização”.
No entanto,
no âmbito da família, que passa por uma crise mundial, os sofrimentos não se
reduzem (obviamente) ao dos divorciados novamente casados que não podem
comungar sacramentalmente (ainda que este sofrimento, quando é real, precisa
ser compreendido).
Citaremos
alguns dos sofrimentos mencionados no Instrumentum laboris: a solidão da
viuvez, do celibato não consentido ou da velhice; a provação da esterilidade,
da doença, do desemprego e da precariedade; o drama do divórcio, das drogas, da
violência e da guerra; ou simplesmente o sofrimento dos pais e avós que tentam
transmitir aos seus filhos e netos os valores aos quais estão vinculados.
Como recorda
o Papa muitas vezes, onde domina a lei do mais forte, são em primeiro lugar os
mais fracos que pagam por isso: crianças, idosos, mulheres.
O primeiro
dever da Igreja, mãe de misericórdia, durante este sínodo é olhar com realismo
o sofrimento de crianças e adultos: que palavra de consolo pode lhes oferecer?
O que fazer concretamente para ajudar e curar?
Francisco
destaca que a Igreja é católica, ou seja, universal, e que sua função de
“hospital de guerra” vai muito além das suas fronteiras visíveis.
Igreja, mãe e educadora
Por ser
também apostólica, ou seja, missionária, a Igreja deve responder a outro
desafio: o de anunciar o Evangelho da família, com a certeza de que, muito além
das exigências às vezes altas, esta “Boa Nova” constitui um caminho de profunda
felicidade para os que tentam colocá-la em prática.
Neste âmbito
no qual a Igreja nada quase sempre contra a corrente, os desafios são cruciais.
Eis alguns deles:
- Como
ajudar os jovens, mergulhados na cultura do provisório, a comprometer-se pela
vida?
- Como
ajudar os casais, nas sociedades em que o divórcio foi banalizado, a superar as
dificuldades para permanecer juntos?
- Como
ajudar as famílias a encontrar o equilíbrio necessário para o desenvolvimento
de cada um, em um momento no qual, quando a pessoa é considerada inútil
(doentes, idosos), acaba sendo marginalizada?
- Como
ajudar os pais a transmitir a fé aos seus filhos, em um mundo secularizado?
- Como, às
vésperas da beatificação de Paulo VI (o papa da Humanae vitae), que
encerrará o sínodo em 19 de outubro, será possível dar aos esposos o senso de
abertura à vida? Como fazer-lhes descobrir e amar o ensinamento da Igreja neste
âmbito?
Estas
questões – e muitas outras – abordadas pelo Instrumentum laboris
requerem uma palavra clara e respostas concretas por parte da Igreja, que tem
vocação para responder, como mãe e educadora: exigente e carinhosa, carinhosa e
exigente.
O sínodo na prática
Como os
trabalhos vão se desenvolver concretamente?
Recentemente,
o cardeal Baldisseri, secretário do sínodo, declarou que os trabalhos se
organizarão segundo uma metodologia nova, mais dinâmica e participativa, com
intervenções e testemunhos.
O cardeal
explicou: “As sessões acontecerão segundo uma ordem muito precisa, que se
refere aos temas do Instrumentum laboris, de maneira mais ordenada.
“Os padres
que quiserem intervir deverão se restringir ao tema tratado e não falar de tudo
– continuou. Os temas serão depois debatidos por pequenos grupos.”
“A primeira
semana será dedicada às grandes relações introdutórias. Depois, as sessões
seguirão a linha das diversas partes do Instrumentum laboris –
acrescentou. Pedimos aos padres que enviem seus textos antecipadamente. Os
textos não serão lidos, mas resumidos, em quatro minutos e sempre respeitando o
tema tratado.”
Com relação
à elaboração de textos e sua publicação, o cardeal destacou: “os textos dos
padres não serão publicados. Cada dia haverá um briefing. Será um
encontro único, que se realizará nos principais idiomas. Não se trata apenas de
uma simples tradução mas de ampliar a perspectiva”.
“Cada dia
também, a sala de imprensa publicará um texto de síntese para os jornalistas –
concretizou. Não haverá publicação dos textos sinodais, como no passado.”
“Mas,
finalmente, haverá um texto sinodal, não de proposições, mas que resumirá todo
o trabalho feito. Será votado e aprovado pela assembleia e entregue ao Santo
Padre, quem decidirá – ou não – publicá-lo”, explicou o cardeal.
“Depois,
haverá uma mensagem ao povo de Deus, antes da assembleia de 2015, seguida de um
documento final”, concluiu. O Papa utilizará este documento para elaborar sua
exortação pós-sinodal.
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