Todos
nascemos numa família e todos somos profundamente influenciados pela vivência
em família. Não há famílias ideais nem um único modelo de família. Há um
sem-número de situações familiares diferentes mas, olhando a espantosa
diversidade existente no mundo, acreditamos que Deus ama a diferença e que
todos os seres humanos têm lugar no Seu projeto criador.
Igreja é
a reunião de todos aqueles que acreditam em Deus e querem viver a mensagem de
Jesus. Todas as famílias podem ser Igreja Doméstica.
Gostaria
de considerar como “família” também quem, embora esteja só, traz consigo muitos
no coração.
Teria
ainda de incluir todos aqueles com quem, embora não havendo laços de sangue,
vamos “fazendo família” ao longo da vida, pela amizade. Com eles, partilhamos
alegrias e tristezas, sabendo que estão sempre presentes e que fazem parte do
nosso caminho.
É na
família que se vivem, talvez, as maiores alegrias e os mais profundos
sofrimentos. Tecem-se laços, cumplicidades, mas existem ruturas, abandonos e
quebras de promessas. É-se cuidado e aprende-se a cuidar. Ouvimos e somos
ouvidos. Descobrem-se diferenças por vezes dolorosas e difíceis de superar.
Surgem conflitos e rivalidades. Mas é igualmente terreno propício ao perdão e
ao recomeço. As doenças, perdas, morte causam grande sofrimento. Conhece-se a
solidão. Celebrar e comemorar datas significativas faz experimentar a comunhão
e torna presentes os ausentes, mantendo vivo o sentido da cadeia em que estamos
inseridos, com todos os que já viveram antes de nós até aos que ainda virão
muito depois de partirmos.
O
psicanalista Donald Meltzer sintetizou as funções que a família deve
desempenhar: gerar o amor, promover a esperança, conter o sofrimento e ensinar
a pensar. Para as famílias que procuram viver segundo o espírito de Jesus,
penso que estas funções remetem para a Boa Nova que Ele nos trouxe:
Proclamou
que Deus é Amor e deu-nos como mandamento que nos amemos uns aos outros.
Fez
brotar a esperança junto daqueles que padeciam no corpo e no espírito e, ao
ressuscitar, venceu a morte para sempre.
Ensinou-nos
a pensar no que realmente importa. Lutou contra todas as formas de sofrimento e
apontou o caminho da verdadeira liberdade.
Como diz
Emília Leitão: «Jesus tinha a capacidade de dialogar com as pessoas. Não disse
a Zaqueu que estava tudo bem… dialogou com ele, fez perguntas… a partir do que
era a sua vida, levou-o a mudar».
A procura
de sentido para os acontecimentos, a atenção aos sinais que a vida vai dando e
a tentativa de os ler à luz da mensagem de Jesus são dimensões importantes da
família enquanto Igreja Doméstica. Mas a Igreja Doméstica não pode ficar
fechada sobre si mesma. Jesus remete sempre para mais. Desinstala-nos.
Convoca-nos. Convida-nos e conduz-nos à hospitalidade, a abrir portas e janelas
do coração e da casa. Precisamos dos outros, os outros precisam de nós. Fazer
nossas as alegrias e as tristezas mesmo dos que não conhecemos. Descobrir que
pertencemos à grande família dos filhos de Deus. Ser Igreja Universal. Ter o
coração alargado. Ter a certeza de que Deus está em cada um e está em todos.
No
Catecismo da Igreja Católica afirma-se: «a Igreja é casa e família para todos,
especialmente para quantos estão cansados e oprimidos». Sendo nós Igreja,
sejamos casa e família uns para os outros.
Este
artigo integra a edição n.º 21 do “Observatório da Cultura”.
Lucy
Wainewright, Autora do livro “Ir à Igreja, Pertencer à Igreja, Ser Igreja”
SNPC |
21.05.14
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