Picasso |
Tempo de férias, tempo de paragem. Tempo de
passear, de ler, de fazer o que se quiser. Ir à praia, fazer uma viagem, ir
visitar os amigos, encontrar alguém da família. Também pode ser um tempo para
ficar simplesmente em casa, de arrumar tudo o que se foi acumulando ao longo do
ano, de fazer limpezas a fundo, de pôr as coisas de novo em ordem. Talvez este
ano seja mesmo um tempo em que muitos ficarão mais por casa.
“Vá para fora cá dentro!”, ouvimos nos anúncios
de promoção do turismo em Portugal. Em tempo de crise, esta é capaz de ser
mesmo uma grande oportunidade de passear mais no nosso país, de descobrir toda
a sua beleza, por vezes ali mesmo ao virar da esquina. Oportunidade para
valorizar a serenidade de dias com tempo, sem pressas.
Férias são sobretudo um tempo de descanso, de
reparação, de ganhar forças. Por isso, talvez fosse bom encarar estes dias não
com a urgência de conseguir encaixar tudo o que se ansiou e sonhou ao longo do
ano de trabalho, mas com a expectativa do que nos pode trazer cada dia,
deixando-nos levar sem pressas. Em que é que descansamos? O que é que nos
descansa de verdade? Pensava como por vezes estamos tão cansados interiormente,
tão dispersos, com tanto ruído, com tantas preocupações que nos consomem e
tiram ânimo, liberdade, lucidez. Nada que uns dias na praia não resolvam,
pensamos nós. Sim, é verdade, os dias na praia com certeza que ajudam a
acalmar. Mas o verdadeiro descanso precisa também de uma paragem e de um
reencontro interior.
“Vá para fora por dentro!”, este poderia ser o
mote para umas férias de fundo, em que a paragem exterior é acompanhada por uma
renovação interior. Fazer silêncio e ir abrandando os motores, deixando a
poeira assentar, deixando vir ao de cima tudo o que vai ficando abafado com o
imediato do dia a dia. Ordenar a vida, arrumar “a casa”, perceber o que me tem
vindo a cansar ao longo do ano, perceber onde me encontro, onde descanso, onde
me sinto em paz, e onde me sinto dividido. Dar tempo às limpezas internas,
deixando o sol entrar bem por todos os poros. Isto sim, é descansar.
Atrevermo-nos a reservar uns dias das nossas
férias para pararmos por dentro e descansarmos em Deus, é sem dúvida uma aposta
ganha. Não se trata apenas de trazer Deus para as férias, trata-se de reservar
um tempo para estar de férias sobretudo com Ele. Nem sempre a vida permite
“este tempo”, mas cada um, segundo a sua realidade e as suas possibilidades,
pode procurar como pôr este plano em prática, na certeza de que o “vá de
férias por dentro” se pode sempre concretizar, por mais magro que seja o
nosso orçamento de férias e por menos tempo que tenhamos apenas por nossa
conta. Fazer um retiro de fim de semana em algum centro de espiritualidade?
Fazer uma peregrinação? Fazer um retiro de silêncio de uma semana? Procurar uma
abadia com hospedaria onde possa ter um tempo mais forte de oração e
contemplação da natureza? Várias e diversas são as ofertas neste “nicho de
mercado”, cada um deverá descobrir o “pacote turístico” que mais lhe convier.
Trata-se de pôr a criatividade a funcionar e “partir” para um tempo e espaço
tendo como principal bagagem nós próprios.
Encarar as férias como tempo para voltar ao
essencial faz com que a nossa atenção fique mais desperta, a nossa
sensibilidade mais apurada. Tudo passa a ocupar o lugar que lhe é devido e ficamos
mais preparados para viver cada dia agradecidos, enfrentando com mais força as
dificuldades que vão surgindo. O regresso ao dia a dia e ao trabalho será mais
suave e com mais sentido.
Com estes dias pelo meio, as férias por fora
ganham então outra dimensão: o mar na praia envolve-nos na sua imensidão, as
montanhas onde fazemos caminhadas falam-nos do mistério da Criação; os jantares
e petiscos com os amigos tornam-se espaços de partilha de vida; os dias
passados na nossa terra trazem-nos à memória a nossa história; os dias de
descanso passados em casa são de facto reparadores. E esta paz de fundo vai-se
prolongando no regresso à vida do dia a dia, deixando a marca que nos faz ir
percebendo quando devemos parar no meio das correrias, nos curtos espaços de
tempo possíveis.
É o Senhor que nos diz “Vinde a mim, todos os
que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos. Tomai sobre vós o
meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e
encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu
fardo é leve.” (Mt 11, 25-30). Pois é isso mesmo, aqui está um
bom convite para estas férias!
Margarida Alvim
Fundação Evangelização e Culturas
In Agência
Ecclesia
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