Dom Jorge Ortiga,
Mensagem para o novo ano de 2013
Cremos que por Ele todas as coisas foram feitas
Apesar das inúmeras previsões apocalípticas para
este ano, o nosso Deus preferiu continuar a dar-nos a oportunidade de
desfrutar deste belo mundo, que Ele próprio preparou outrora para nós,
pois, continuando a caminhar nos conteúdos do Credo, acreditamos que
“por Ele todas as coisas foram feitas”.
Neste sentido, considero que qualquer mensagem de
ano novo deve despertar uma razão válida para continuarmos a viver com
alegria neste status social tão sombrio. A propósito, a prestigiada
revista norte-americana Time elegeu como figura do ano o Presidente
Barack Obama. Contudo, eu preferia eleger como figura do ano um conjunto
de pessoas que, no meio de adversidades físicas e económicas, mesmo
assim conseguiram ser um factor de enorme orgulho para o país: os
atletas portugueses dos Jogos Paralímpicos de Londres, alguns deles da
nossa Arquidiocese, e a quem saúdo pessoalmente!
Na mensagem do ano passado, tinha ressaltado
aqueles seis pescadores das Caxinas, que sobreviveram durante três dias
em alto mar. Do mesmo modo, estes atletas também “sobrevivem” a
dificuldades quotidianas para que, através do desporto, revelem a
igualdade de oportunidades, acentuem o combate à discriminação e
cimentem a valorização das pessoas com deficiência.
Com o evento do Átrio dos Gentios, percebemos que
afinal a vida, para crentes e não-crentes, tem valor em qualquer
circunstância existencial, mesmo quando ameaçada pela crise. Na sua
mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa Bento XVI surpreende-nos ao
afirmar que aí se encontra precisamente a solução da actual crise: “para
sair da crise financeira e económica actual, que provoca um aumento das
desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que
promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria
crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico.”
A vida humana é um tráfico de encontros. E por
isso, peço a Deus que nos dê a sabedoria da paz para esses encontros.
Aquela paz interior que promove a vida, que dissipa a lógica da
violência, que dissemina a corrupção, que transforma os olhares
pessimistas, que rompe com as muralhas das ditaduras e que sufoca as
tonalidades da indiferença. Aliás, à semelhança de Maria, a Rainha da
Paz, os atletas paralímpicos são um testemunho actual que nos faz
acreditar que realmente “nada é impossível”.
O mundo não se constrói apenas com grandes
presidentes, grandes descobertas científicas ou grandes discursos
musculados, mas também com pequenos e silenciosos gestos de paz que
tornam possível a sociabilidade humana e garantem a sobrevivência do
próprio planeta. E o gesto do Papa Bento XVI para com o seu desleal
mordomo neste Natal comprova que a humildade abre mais portas que a
autoridade.
Para terminar, o “ano internacional da cooperação
para a água”, que celebra-se durante este ano de 2013,
responsabiliza-nos para a ecologia. A fé, traduzida no amor ao próximo,
também se manifesta no cuidar deste “chão” que pisamos, para que as
gerações futuras desfrutem dele com qualidade, antes que sejamos nós os
autores de um cenário apocalíptico (catástrofe) sobre o mundo.
Porque o Deus da Vida acredita e não desiste de
nós, nós acreditamos que vale mesmo a pena viver: é esta a razão
primordial! Por isso, um profundo obrigado aos atletas paralímpicos por,
neste tempo de crise, nos terem ensinado que desistir é uma acção
proibida!
+ Jorge Ortiga, A. P. 27 de Dezembro de 2012
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