UMA JANELA ABERTA
Creio em
Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor,
que foi concebido
pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria.
A nostalgia do evento Átrio dos
Gentios vai-se diluindo. Contudo, confesso que há uma frase, da mensagem que o
Santo Padre escreveu pessoalmente, que me tem perseguido: “os homens sem Deus
constroem edifícios de cimento armado sem janelas”.
Se na mensagem para o Advento,
partindo da história da família de Abraão, pedi que passássemos do riso da
descrença ao sorriso da fé em Deus todo-poderoso, nesta mensagem para o Natal
alargo o leque para que também acreditemos naquele que encarnou e abriu uma
janela nos edifícios humanos, de modo a contemplarem a luz radiosa de Deus:
Jesus Cristo, seu único Filho, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nascendo da Virgem Maria.
Ora, no tempo de Jesus a família era
tudo: lugar de nascimento, escola de vida e garantia de trabalho. Fora da
família, o indivíduo ficava sem proteção nem segurança. Só na família
encontrava a sua verdadeira identidade. Esta família não se reduzia ao pequeno
lar constituído por pais e irmãos, mas alargava-se a todo o clã familiar.
Dentro deste grande grupo, eles entreajudavam-se nos trabalhos, partilhavam
alfaias agrícolas e os lagares de azeite, uniam-se para proteger as suas
terras, definiam as regras de ação e estabeleciam fortes laços de amizade.
Perder ou abandonar a família de origem, significava assim perder a segurança
existencial.
Neste sentido, os ataques da atual
sociedade de consumo pode reduzir o Natal a hábitos e rotinas comerciais, que
disfarcem o genuíno sentido da sua origem: celebrar o Natal é festejar em
família o nascimento do Salvador! Por conseguinte, a imagem da janela aberta
traduz em si uma nova gramática do humano. Ela possibilita a entrada do
transcendente no nosso interior e, simultaneamente, obriga-nos a olhar para o
exterior, exigindo-nos a corresponsabilidade familiar, à semelhança da família
de Nazaré. Porque se a chaminé (natal comercial) traz a satisfação do “eu”, a
janela aberta (natal católico) favorece a comunhão do “nós”. Trabalhemos a
nossa realidade familiar e abramos as portas da nossa família ao mundo!
Por isso, gostaria de deixar um
desafio a todas as famílias da nossa Arquidiocese: percam a vergonha e façam um
breve momento de oração, antes da refeição da Ceia de Natal, louvando os dons
de Deus e recordando os irmãos que perderam a segurança familiar.
Para terminar, uma das mais antigas
músicas natalícias lança-nos o imperativo: Adeste
Fideles laeti triumphantes! Só contemplando o presépio com o código da fé,
compreendemos o milagre do Natal: a união da família! Sem ela, o indivíduo fica
privado de um projeto de realização humana.
Na certeza de que muitas janelas se
abrirão, faço votos de um Santo Natal a todos os crentes e não-crentes! Porque,
quer queiramos quer não, se Maria não tivesse dito sim à proposta divina e, por
inerência, Jesus não tivesse nascido, ainda estaríamos fechados na obscuridade
dos edifícios de cimento armado e a perguntar: afinal, quem é somos e para onde
vamos?
Um bom Natal a todos e,
particularmente, àqueles que não experimentam o calor familiar!
+ Jorge Ortiga, A.P.
23 de Dezembro de 2012.
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