Já não se ouve com a mesma intensidade aquele refrão que
repetiu, por décadas, um veredito a respeito do fim da família. De sociólogos a
outros tantos especialistas de diferentes áreas, há uma convicção incontestável
de que a família tem centralidade e uma importância determinante na vida de
cada pessoa. É um grande ganho fortalecer esse entendimento. A família é o
lugar primário da humanização de cada um e da sociedade, um berço de vida e
amor.
Nenhum lugar é tão favorável para o conhecimento e a
experiência de Deus. Na família, a fé é transmitida pelo amor. Os limites
conhecidos e experimentados não obscurecem ou invalidam esta força própria, até
mágica e não palpável, que a família, como escola de amor, exerce na tarefa
educativa. A Igreja Católica, em parceria com muitos segmentos da sociedade
civil, considera a família como a primeira sociedade natural, titular de
direitos próprios e originários. É fácil constatar o lugar central que é dado à
família na vida social. Excluir ou deslocá-la desse lugar é correr o sério
risco de causar um grave dano ao crescimento do corpo social inteiro.
Para compreender melhor a centralidade da família, é preciso
compreender, à luz da Doutrina Social da Igreja, que essa instituição “nasce da
íntima comunhão de vida e de amor, fundada no matrimónio entre um homem e uma
mulher, com dimensão social própria e originária, lugar primário de relações
interpessoais, instituição divina colocada como fundamento da vida das pessoas
e como molde de todo ordenamento social”. Não se pode desprezar a força que
cada família agrega nos avanços sociais e na consciência política, bem como na
experiência indispensável da fé em Deus. Não se pode ignorar, deixar de
aprofundar e de refletir sobre a indiscutível importância da família para a
pessoa.
Há um ambiente de vida criado pelo dom recíproco de um homem e
uma mulher, chamados a viver como compromisso de amor. Este é o ambiente
indispensável para que a criança desenvolva suas potencialidades e torne-se
consciente de sua dignidade - o dom mais precioso para cada pessoa. Além disso,
esta consciência sustenta a cidadania, que articula relações sociais e
políticas dando à sociedade as condições necessárias para ser solidária e
fraterna. Perdida esta consciência, ou mal formada, desvios de todo tipo podem
sacrificar o caminho e os destinos da humanidade.
A sociabilidade humana, aprendida e experimentada na família,
é determinante na sustentação da sociedade, do tecido de sua cultura. Esta
sociabilidade é indispensável porque contribui de modo único para o bem comum.
Por isso, a família deve ser prioridade. No horizonte dessa rica compreensão é
que se discute a inoportuna equiparação legislativa entre família e uniões de
fato. Esta equivalência está na contramão do modelo de família que não pode
reduzir-se a uma precária relação entre pessoas. O debate público contemporâneo
se defronta com o ideal de família que compreende a união permanente, originada
pelo pacto entre um homem e uma mulher, fundado sobre uma escolha recíproca e
livre. Uma escolha que implica a plena comunhão conjugal orientada para a
procriação.
Pensando a tarefa educativa própria da família, é oportuno
relacioná-la sempre com a vida económica e com o trabalho. A família, quando
protagonista da vida económica, ensina a importância da partilha e da
solidariedade entre as pessoas. De modo particular, é decisiva na formação
profissional. A sociedade ganha quando a família faz do cidadão um trabalhador
incansável, engajado na promoção do bem. Em se considerando a necessidade de
avanços culturais e económicos, a família precisa contribuir, sobretudo, com a
educação para o sentido do trabalho, ajudar na oferta de orientações. A família
tem, pois, um papel determinante no desenvolvimento integral humano, garantindo
a qualificação da vida social.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo metropolitano de
Belo Horizonte
BELO HORIZONTE, sexta-feira, 19 de outubro de 2012 - (ZENIT.org)
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