Ser pai… quando se é Pai? É-se pai quando se engravida.
A gravidez do pai dá-se em primeiro lugar no coração, onde a consciência e o sentimento de paternidade é gerado. A gravidez do pai dá-se sobretudo quando o homem passa além de uma paternidade biológica e assume uma procriação responsável, a qual inclui também a educação. Ser pai é um dom e uma vocação. Diríamos que ser pai é estar em permanente gestação. Acolher os filhos como um dom ou como promessa é assumir a grande tarefa inicial da criação: crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra…
Ser pai é estar ao serviço da vida e da criação. É ser servo da vida, ser seu cooperador, não tão somente na ordem da procriação apenas, mas sobretudo na capacidade de gerar uma vida com sentido e de dar ao mundo um mundo novo, cheio de beleza pela permanente novidade que a vida nos traz.
Importa para isso que o pai não se esqueça que também é filho. E enquanto filho inscreve-se na lógica do aprender e do descobrir a vida. Tudo isto é um processo, diríamos uma geração prolongada, que vai acontecendo no tempo e no espaço e nas suas mais variadas e surpreendentes circunstâncias da vida social, económica, afectiva e espiritual.
Ser pai é assim ser aprendiz e ser educador em simultâneo. Não há aqui lugar para compartimentar momentos ou afazeres. Tudo se torna acontecimento que marca a vida do próprio e dos seus familiares directos. Daí que ser pai é de igual modo ser homem e esposo, ser trabalhador honesto e honrado, bom administrador dos bens, gestor dos seus recursos, responsável e cumpridor no que diz respeito aos seus deveres civis, transmissor e comunicador dos valores morais, éticos e espirituais, incansável na busca do sentido da vida e cultivador da dimensão espiritual… vive integrado na sociedade que o rodeia e partilha das mesmas necessidades, angústias e tristezas, alegrias e esperanças que os seus contemporâneos… Apesar dos contratempos e do inesperado, tem memória e confia no futuro… A sua vida é um todo e um tudo que não prescinde de ninguém. Nem ninguém prescinde dele. Fazê-lo seria anular a ordem natural da existência humana e da sua sobrevivência enquanto ser para a felicidade.
É nesta diversidade e pluralidade em que todos vivemos que descobrimos a importância de um pai. Na verdade, o pai não é o centro nem faz tudo convergir para si. Antes, cria condições e estabelece pontes de diálogo para a sã convivência das sociedades moleculares que são as famílias. Mesmo nas mais variadas formas de família que actualmente existem. Mesmo nas questões fracturantes o pai não perde o seu papel nem o deve deixar cair. O pai é figura imprescindível para o crescimento integral e integrado de qualquer criança, adolescente, jovem ou adulto. De facto não se é pai somente na infância. É-se pai desde a "gravidez do coração" até ao último instante da vida. Diríamos que a importância de ser pai está de alguma forma no seu inconformismo, na sua capacidade de se incomodar e não se acomodar. A sua autoridade perante a vida e diante os seus filhos está na lógica primeira do dom da vida. Ora a vida é dinamismo, é beleza que cria novidade permanente. E isto é amor. Demitir-se deste dinamismo e das suas consequências é deixar de amar e de entender a paternidade como um serviço à criação. Poderá mesmo ser, deixar de ter a vida por conselheira e mestra da nossa existência.
P.e Francisco Carreira
Comentários
Enviar um comentário