«É fácil ser jovem e agir bem, e manter-se
distante de toda a mesquinhez. Mas sorrir, quando já desacelera o bater do
coração, isso tem de ser uma aprendizagem.»
Eis-nos, mais uma vez, introduzidos no
outono, uma das estações mais fascinantes, apesar das associações que
habitualmente lhe são feitas: tempo do crepúsculo, da melancolia, da velhice.
Gostaria de partir desta última metáfora,
da terceira idade, para uma reflexão que nos é sugerida pelo sempre verde (pelo
menos a nível de popularidade, sobretudo entre os jovens) escritor Hermann
Hesse (1877-1962).
Trata-se de poucas palavras que nos
oferecem um contraste, mais do que entre duas idades – juventude e senilidade
–, entre dois estados interiores.
Há, com efeito, quem esteja sempre ávido
de realizações e conquistas: fresco e operacional, pleno de estímulos e
abraçado a mil compromissos.
Este tem, todavia, um defeito oculto, de
que muitas vezes não está consciente. Quando embate no primeiro obstáculo
grave, quando o seu físico deixa de reagir de modo imediato aos seus comandos,
quando se insinua a depressão na alma, tomba num estado de abandono e
desencorajamento radical.
Outro é o perfil, da verdadeira
maturidade, que não coincide necessariamente com o estatuto etário. O pulsar do
coração torna-se mais difícil, o entusiasmo não se radica facilmente no
espírito, as asperezas do caminho são frequentes. No entanto, sabe viver com
serenidade, aprendendo com paciência o ritmo da vida.
É esta a verdadeira sabedoria, que não nasce
da idade, mas da formação interior, de uma autêntica educação do coração e da
mente.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Syntheticmessiah/Bigstock.com
Publicado em 23.09.2019
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