Queimaram-nos as
pontes floridas que trazíamos dentro do peito. Deixaram-nos sem panos
brancos para hastear as velas do nosso barco e sem remos para lhe traçar
um rumo que nos faça ganhar a viagem.
Substituíram os rios que nos
corriam cá dentro por terras que nunca sonharam, sequer, com água.Levaram-nos os sonhos, espreitaram-nos e riram-se deles. Deixaram-nos sem paisagens de onde se podia ver tudo. Encheram-nos os olhos de águas turvas e embalaram-nos ao som de armas, fogo, choro e lágrimas.
Queimaram-nos as rédeas que nos puxavam
para diante. Seguimos agora sem norte e sem direção. Roubaram os
pássaros ao Céu e, agora, já ninguém se atreve a olhar para cima.
Acorda.
Acorda depressa. Era só um sonho. Ainda
está tudo bem. O planeta ainda está pintado das mesmas cores. As pontes
estão em flor dentro do peito. Os panos brancos estão prontos e lavados.
Os rumos estão por estrear. Os rios deslizam sobre a terra. Os sonhos
continuam solenes e nossos. As paisagens continuam limpas e as águas são
claras e transparentes. Embalam-nos ao som de beijos, risos, abraços e
sossegos. As rédeas fizeram-se fortes. Seguimos agora. Os pássaros voam
lá em cima e dentro de nós, como sempre.
Acorda depressa. Era só um sonho.
Ainda está tudo bem?
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