Há que arrumar tudo. Até o coração!

Temos uma tendência assustadora para varrer tudo para debaixo dos nossos tapetes internos. Não quero pensar nisto agora.
Varro para debaixo do tapete. Não quero confrontar-me, agora, com esta minha fragilidade. Varro para debaixo do tapete. Não quero perceber que está tudo fora do sítio. Varro para debaixo do tapete. Não quero ver o que está à vista de qualquer um. Varro para debaixo do tapete.

Enquanto vou varrendo, vou-me convencendo que tudo está bem. Vou dizendo, para mim mesmo, que tudo vai ficar bem. Mesmo que eu não olhe. Mesmo que eu não veja. Mesmo que eu não pense. Mesmo que eu não queira. Lamentavelmente, acabamos por compreender que não é, de todo, o que acontece. Enquanto eu vou insistindo em não limpar o que é preciso, a sujidade vai acumular-se nos lugares mais queridos. Vai instalar-se do lado de dentro do coração. Do lado de dentro da minha voz. Do lado de dentro das minhas ações. Do lado de dentro dos meus gestos. Depois, a bondade do meu coração vai dar lugar à aspereza e à falta de compaixão. As minhas palavras vão ser feridas. As minhas ações vão ser contaminadas e os meus gestos já nem vão ser meus.

Quando não queremos ter a coragem para limpar o que precisa de ser limpo, a sujidade faz casa nos sítios mais escondidos. Aparentemente, estará tudo bem e bonito. Por dentro, estará tudo em ruínas.

É preciso tirar todos os tapetes e varrer todos os lixos. Todas as mágoas. Todas as mentiras que nos contámos. É preciso arredar os móveis e limpar onde nunca foi limpo. De vez e para sempre. Depois de se limpar é que se pode construir.

Infelizmente, estamos pouco habituados a essa transparência. Preferimos esconder-nos atrás do que não somos. Atrás do que nos ensinam a ser. Debaixo de crenças que não são nossas. De princípios que não reconhecemos.

Está na hora de limpar melhor. De arrumar tudo. De não preferir o que nos suja os dias do mesmo de sempre. Faz isso. Arreda o coração e limpa o que lá estiver guardado. Depois disso pode ser que consigas amar.


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