Há cada vez mais
pessoas idosas a viver sozinhas e isoladas. A sua solidão, porque não é
escolhida, é uma condenação dos outros e da sua própria família. Alguns
aceitam-na como condição quase natural da sua idade e pela determinação
que têm em não ser peso para ninguém, menos ainda para aqueles que amam.
Mas será que o amor é só para os tempos
bons? Quantos destes homens e mulheres, que hoje vivem abandonados,
colocaram todas as suas forças ao serviço dos seus filhos sem olhar aos
sofrimentos e sacrifícios que a sua dedicação lhes exigia. Filhos esses
que, agora, os preferem longe.
Em outubro de 2018, foram sinalizadas
45.563 pessoas idosas a viver sozinhas ou isoladas em Portugal. Um
número assustador pelo que revela, não dessas pessoas, mas dos outros
que deviam combater esta realidade em vez de a ignorarem.
No inverno, chegam aos nossos hospitais
muitos idosos desnutridos e em hipotermia. Tristes, muito tristes. Pior,
estão resignados a esta condição de desconsolo. Por isso, agradecem
cada sorriso e minuto de atenção… como se sentissem que não os merecem.
A fome, o frio, a tristeza e a solidão
são problemas cuja solução se conhece e pode ser aplicada, melhor ou
pior, por quase todos nós. A doença pior é a que faz com que quase todos
nós fiquemos indiferentes, que nos recusemos a dar apoio, familiar e
institucional.
Alguns lares de idosos parecem cemitérios de vivos… talvez até com menos visitas. Que diz isso de nós?
Preservamos as nossas crianças de
conviver com os idosos, como se a velhice fosse contagiosa. Talvez com
medo de que as crianças nos peçam depois para haver mais encontros
daqueles. Até porque os velhos têm tempo e paciência para as crianças, e
isso aborrece-nos, porque nós não temos.
O que é preciso para que mudemos esta
nossa forma de pensar? Será necessário chegarmos nós a velhos para o
perceber? Talvez, então, seja justo que soframos o mesmo ou pior. Até
porque estes, no seu tempo, não abandonaram os seus.
Se garantimos, e bem, aos reclusos dos
estabelecimentos prisionais refeições quentes e acompanhamento
permanente de saúde, por que razão não o conseguimos assegurar aos
nossos velhos?
Dizemos que amamos, mas amar é amar até ao fim. Aconteça o que acontecer.
A maioria de nós afirma com convicção que ama, mas será isso verdade? Afinal, se um amor acaba é porque nunca chegou a existir.
Mais valia que assumíssemos que não somos nem capazes nem dignos de amar.
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