BAPTISMO DO SENHOR Ano C
“Quando todo o povo recebeu o baptismo,
Jesus também foi baptizado.”
Lc 3, 21
Durante alguns anos julguei que me
lembrava do meu baptismo. Do padre e dos meus pais, da pia e da água a
cair na minha cabeça, da igreja no centro da cidade do Lobito. É claro
que não podia lembrar o que me aconteceu com dois meses de vida, mas foi
o baptismo do meu irmão ou dum primo, pelos dois ou três anos, que em
mim ficou gravado. A fotografia enviada aos meus avós mostra um bebé num
lindo vestido, num banco do fotógrafo Quitos! Poucos lembramos o dia do
nosso baptismo, mas isso não tira força ao que aí começou.
Descobri mais tarde a diferença entre dizer “fui baptizado” e dizer “sou baptizado”.
É a surpresa do encontro com Jesus Cristo vivo, na diversidade da sua
presença, especialmente em testemunhas cheias do Espírito Santo. E a
descoberta da Igreja, não como clube de perfeitos mas comunidade de
pessoas, frágeis e admiráveis, Igreja santa e pecadora, a escutar, a
tentar viver, e a espalhar as palavras vivas do Senhor Jesus. E continuo
a entrar no baptismo como fonte de vida e graça que não se esgota. Não é
algo simplesmente do passado, que uma fotografia e um registo
assinalam. É do presente, e vai ser do futuro, na surpresa de saborear o
que é ser filho amado de Deus, com irmãos de toda a parte. Na alegria
de ser padre lembro o que dizia Santo Agostinho: Para vós, sou Bispo; convosco sou cristão. Nome de serviço, o primeiro; de salvação, o segundo.”
Para além de um confronto entre baptismo
de crianças ou baptismo de adultos, é fundamental a autenticidade e a
verdade com que ele é uma decisão importante para os pais de uma criança
e para os próprios. Uma decisão aprofundada no conhecimento de Cristo,
uma opção de vida renovada pelo Evangelho, um futuro empenhado na
transformação do mundo. É grande ainda a força da tradição esvaziada de
sentido, e da festa, sem caminho antes nem depois, no baptismo de
crianças. Falta um dinamismo maior na proposta da fé aos adultos e um
acolhimento feliz de quem duvida e faz perguntas! É preciso passar do
banho que facilmente seca, para a torrente que leva vida e floresce os
desertos!
Baptismo tem sabor de princípio! Fala
mais do presente e do futuro. Revela o amor primeiro de Deus, que não
está dependente dos nossos sucessos, mas se dá todo, e em cada momento.
Tantas vezes mal-amados e desencantados por amores tipo “toma lá, dá cá”, é difícil acreditarmos que somos “filhos muito amados”.
Deus não espera os nossos “melhores resultados” para um prémio
proporcional, pois Ele “ama sem medida”, parafraseando Santo Agostinho: “A medida do amor é amar sem medida”. Nunca é tarde para viver a alegria de ser baptizado!
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