A história do Natal é admiravelmente coerente, apesar de tudo ser inesperado e surpreendente.
Começa
em Nazaré, de onde nada de bom podia vir, uma pequena aldeia
desconhecida com menos de 200 habitantes. Um anjo entra na casa de uma
adolescente: "conceberás e darás à luz um filho". Responde Maria: "Mas
eu não conheço nenhum homem!". Mas vai a correr para visitar a sua prima
Isabel, velha e sem filhos, esperando, no entanto, também uma criança.
Duas mulheres, uma jovem que não conhece homem algum e uma mulher idosa
que não pode ter filhos: nelas, onde não existe ainda ou nunca existiu
vida, Deus traz vida.
Quando O
esperado nasce, nasce fora de casa e os primeiros a visita-Lo são
mendigos e marginais: os pastores. Depois, chegam outros marginais: os
magos que são estrangeiros e pagãos. Estamos realmente nos subúrbios do
homem, como diz o Papa Francisco.
Que sentido tem repetir mais uma vez esta história extraordinária?
Para os
cristãos, o Natal significa precisamente isto: a vinda de Deus entre nós
num pobre e frágil bebé. É o grande mistério da fé cristã. Deus fez-se
homem!
Mas também é um grande anúncio: Deus amou-nos tanto ao ponto de se tornar no que somos para que nos tornasse-mos no que Ele é.
O
cristão, consciente desta sua qualidade como filho de Deus, intensifica a
oração e a festa no dia de Natal. Mas este fervor religioso renovado é
em vão se apenas se limitar a celebrá-lo como rotina e não o viver
diariamente. Celebrar o Natal não significa recordar um facto relegado a
um passado mítico, nem tentar entendê-lo intelectualmente, mas dizer
"hoje cumpre-se o Natal para nós, aqui e agora".
Acolher a
encarnação de Jesus não é um privilégio, mas um compromisso com Deus e
com a humanidade. Por isso é que o Natal não é apenas uma ocasião para
fortalecer as relações familiares ou de amizade. É acima de tudo uma
atitude ativa e responsável com todo o mundo.
Termino citando D. Tonino Bello:
«Jesus
que nasce por amor vos dê a náusea de uma vida egoísta, absurda, sem
pressões verticais. E vos conceda a capacidade de uma existência
carregada de doação, de oração, de silêncio, de coragem. A Criança que
dorme na palha vos tire o sono e faça sentir a almofada da cama dura
como um pedregulho, até que deem hospitalidade a um despejado, a um
marroquino, a um pobre de passagem.»
«Gostaria
de apertar a mão de todos, das crianças e dos adultos, dos ricos e dos
pobres, e fixar os olhos da gente, e repetir a cada um que, se a trégua
santa do Natal se alargasse a todos os 365 dias do ano, a vida na terra
seria mais bonita: sem despejados, sem famílias divididas, sem corações
decepcionados, sem desempregados, sem infelizes, sem trágicas solidões.»
Um Santo Natal para todos.
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