«O miúdo é a pessoa mais poderosa entre os gregos. Com efeito,
os gregos são comandados pelos atenienses, os atenienses são comandados
por mim, eu pela mãe do meu filho, e a mãe pelo próprio miúdo.»
Esta confissão foi colocada na boca de Temistocles, general e
estadista ateniense do séc. V a.C., pelo historiador e filósofo grego
Plutarco (séc. I-II d.C.) na sua obra “Vidas paralelas”, recolha de
biografias apresentadas em dupla entre um grego e um romano.
É uma irónica consideração sobre o pano de fundo do poder: quem
verdadeiramente comanda está muitas vezes nos bastidores. É verdade que
não se deve exagerar no mútuo assacar de responsabilidades e, mesmo
sabendo que existem indubitavelmente “poderes ocultos”, não se deve
ceder aos excessos desse facto.
Gostaria, no entanto, de me centrar num aspeto mais familiar,
tomando quase à letra as palavras de Temistocles. Devemos,
efetivamente, reconhecer que no restrito perímetro da família se
consumam muitas vezes atos extremos.
Por um lado há a infâmia da violência sobre os menores, com
todas as trágicas consequências que comporta sobre elas (pensemos apenas
na vergonha da pedofilia, que pode chegar até a explodir em contexto
doméstico).
Por outro há o excesso de fraqueza, que é por vezes fruto da
preguiça e da superficialidade, porque educar é uma arte que é tudo
menos fácil de exercitar.
A criança torna-se, assim, uma pequena prepotente a quem tudo se
concede para um viver sossegado ou por um amor desacertado. Ela
condiciona os ritmos familiares, os seus desejos são ordens, a sua
natureza cresce sem vínculos nem controles.
O resultado é fácil de intuir e muitos dos sofrimentos sucessivos
dos pais – ainda que nem sempre – têm a sua raiz daninha precisamente
na ausência de uma ajustada, serena, mas exigente educação dos filhos.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad.: / edição: SNPC
Imagem: olly2/Bigstock.com
Publicado em 08.03.2018
In Avvenire
Trad.: / edição: SNPC
Imagem: olly2/Bigstock.com
Publicado em 08.03.2018
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