«Na ascese aprende-se a cobrir com um véu piedoso os defeitos
dos outros e a cobrir com um véu de modéstia as nossas glórias.
Aprende-se que o cristão tem um só inimigo que deve temer: ele próprio. E
que o seu primeiro problema deve ser encerrado nestas cinco palavras:
exame de consciência, dor, resolução, acusação, penitência.»
Escolho hoje estas linhas do P. Lorenzo Milani (1923-1967). O
cardeal Silvano Piovanelli, seu companheiro de estudos, recordava muitas
vezes um testemunho do sacerdote. A quem lhe perguntava por que não
deixara a Igreja católica, que o tinha duramente provado, ele
respondia: «E onde é que eu encontraria quem me perdoasse os pecados?».
As «cinco palavras» que o P. Milani anota no trecho citado
descrevem precisamente o sacramento cristão da Confissão ou
Reconciliação. É um itinerário interior que sofreu nos últimos tempos
um desvanecimento na prática, apesar de a liturgia após o Concílio
Vaticano II o ter tornado mais nítido através de uma celebração
sugestiva.
O retorno a si mesmo depois de ter vagueado por fora, imergindo a
consciência na superficialidade que descolora bem e mal,
confundindo-os, é acompanhado da opção severa e exigente de uma mudança
(a «conversão» no grego dos Evangelhos é “metánoia”, ou seja, “mudar
mentalidade”) que incide na alma, fazendo com que ela sangre porque
amputa vícios intimamente coesos connosco próprios.
Aliás, como escrevia um autor espiritual, Columba Marmion
(1853-1923), «o amor sem penitência e espírito de sacrifício é um corpo
sem coluna vertebral».
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad.: SNPC
Imagem: Ian Redding/Bigstock.com
Publicado em 16.01.2018
In Avvenire
Trad.: SNPC
Imagem: Ian Redding/Bigstock.com
Publicado em 16.01.2018
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