Saudade maior é de quem já se foi. Mesmo nos que nutrem a fé no
reencontro, é visível a dor de ter que seguir longe de quem se queria
por perto. A dor de perder quem nos é querido, pela astuta ação da morte
deixa em todos nos a marca da saudade.
Quando a morte ocorre,
experimentamos a forte dor e a sensação de termos perdido o chão,
perdido as raízes e estarmos, então, soltos no mundo. A falta do outro
bagunça e desestrutura. Sofremos muito e, então, vem o luto. O luto é um
processo de adaptação após perdermos algo ou alguém que era importante
para nós, ou seja, uma perda significativa. Quanto maior o vínculo
afetivo, maior será o impacto. O luto é a incapacidade que temos de nos
divertir, de estarmos felizes.
Por um tempo é como se
funcionássemos no automático e só conseguimos nos ocupar das tarefas quotidianas e daquilo que chamamos de trabalho. Quanto mais repentina é a
ação da morte, mais é exigido de nós. Muitos se vão aos poucos, vão
adoecendo e partindo lentamente, dando-nos assim tempo de assimilar e
digerir a difícil realidade. Na contramão, há situação nas quais somos
pegos de surpresa pela partida repentina de quem estava ali ontem,
jovem, cheio de vida. A morte exige muito de nós, exige muita coragem.
O que fazer então quando ela nos encontra e leva de nós quem amamos?
Em primeiro lugar devemos entender e aceitar que vamos sofrer e então
tentar sofrer o mínimo de tempo possível. Quem sofre mais tempo não
significa que vive um luto maior nem tampouco que sua dor e/ou seu afeto
por quem se foi é maior. O sofrimento pelo sofrimento não tem nada de
digno, nem de profundo ou saudável. O sofrer deve ser superado com
resiliência (aquela capacidade de cair e se levantar o mais breve
possível) e nunca alimentado. Superar a dor, superar o luto deve ser
sempre o nosso objetivo, aprendendo sempre. A dor sempre nos ensina
muito e ela é inevitável.
Talvez,
vocês concordem comigo em afirmar que a maior dor que o ser humano pode
vivenciar é a dor da perda de um filho. Acredito que a maior injustiça,
que o maior descompasso, que o maior equívoco da natureza é um filho
partir antes dos pais, obrigando-os a suportar a dor de uma dilacerante
ferida e, depois, a caminhar com uma cicatriz inescondível. Talvez,
então, vocês estejam agora me perguntando como e onde conseguir
motivação, força para superar algo tão penoso assim. Acredito que a
ternura e a fé hão de ser ainda maior e que não há nada a fazer a não
ser superar e seguir. Negar, agredir, deprimir-se, desistir…, nenhuma
dessas alternativas funciona. O fim de tudo é sempre a aceitação e há
vários caminhos para se chegar a ela.
Lembro-me de um depoimento
bonito de uma paciente que, ao perder repentinamente a filha jovem em
decorrência de um acidente de trânsito, um dia me disse: -Ao ler A
Cabana eu achei um caminho para seguir. E assim, depois de um tempo ela
conseguiu abandonar os psicotrópicos. O caminho pode estar em um livro,
na fé, nas relações afetivas, na caridade ou em qualquer lugar. Ele
existe e nós o chamamos de motivação. Cabe a cada um descobrir o que lhe
motiva, o que lhe faz vivo e lhe dá força, combustível para seguir.
A
única pessoas que permanecerá connosco pelo resto de nossas vidas somos
nós mesmos. Por isso nós, estudiosos do comportamento e das emoções
humanas insistimos tanto para que tenhamos, cada um de nós, uma ótima
relação consigo mesmo. E importante que nos bastemos e que possamos nos
carregar no colo, que possamos jogar no nosso próprio time, que nos
amemos a ponto de cuidar de nós mesmos e das nossas feridas. A saudade é
companheira de todos nós.
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