Somos muito benevolentes com a
violência, desculpamo-la muito facilmente. E, todos, somos em algum
momento da nossa vida, com mais ou menos intensidade, violentos para com
alguém. Há uma música da “Avenida Q” que fala de todos sermos um pouco
racistas, assim também é com a violência. Todos fomos violentos em algum
momento e com alguma pessoa seja gritando, seja dizendo coisas
horríveis, seja fazendo bullying ou de tantas outras formas.
Há muitos tipos de violência, com
diferentes gravidades e consequências. Porém, todos eles agridem, todos
eles deixam marca em nós. Podemos não ver essas marcas, mas existem e
têm em impacto em nós. Daniel Comboni falou das pessoas escravizadas
como embrutecidas.
Quantos de nós não somos embrutecidos?
Quantos de nós não temos cicatrizes?
É preciso criar a cultura do encontro e a
revolução da ternura a que tanto o Papa Francisco nos convida. É
preciso abandonar o ciclo de violência porque tal como nos diz Gandhi: “Olho por olho, dente por dente e o mundo acabará cego”.
Respondamos à violência com amor. Não há outro caminho: ou somos parte
da solução ou parte do problema. Calarmo-nos, ignorar e ser indiferente é
ser parte do problema. É tão mais fácil não nos preocuparmos com a
senhora que soubemos que sofre violência doméstica. É tão mais fácil
ficarmos indiferentes. É tão mais fácil não querer saber da criança que
sofre bullying na escola. É tão mais fácil encontrar desculpas como “são
crianças” ou “não vai mudar nada” ou “sou eu quem vai mudar alguma
coisa?” ou outras tantas. Não fiquemos indiferentes à violência. Não
façamos de nós cegos.
O papa Francisco disse “na noite dos
conflitos que estamos a atravessar, cada um de nós pode ser uma candeia
acesa, que recorda que a luz vence as trevas, e não o contrário. Para
nós, cristãos, o futuro tem um nome, e esse nome é esperança.”
Sejamos candeias na vida uns dos outros.
Sejamos luz. Abracemos. Quando quisermos fazer guerra e a violência
parecer o caminho mais simples façamos a revolução da ternura com
abraços, tempo e silêncio como a 25 de Abril de 1974 se fez uma
revolução com flores. Sejamos revolucionários da ternura e comecemos por
nós. Amemo-nos, perdoemo-nos e sejamos misericordiosos conosco olhando
com amor todas as traves das nossas vistas. Se cada um de nós
erradicando a violência de si estamos aos poucos a erradicar a violência
do mundo. Digamos sim ao amor.
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