Em dia de São João Crisóstomo, vamos directamente ao século IV para chegar aos dias de hoje (e para sempre!)
1)
Portanto, quando fordes escolher uma esposa, não examineis somente as
leis do Estado, mas, antes, examineis as leis da Igreja. Deus não vos
julgará no último dia segundo as leis do Estado, mas segundo as Suas
leis.
2) Não é mesmo uma tolice? Quando estamos sob ameaça de perder
dinheiro, tomamos todos os cuidados possíveis, mas quando a nossa alma
está sob risco de ser eternamente punida, nem ao menos prestamos
atenção.
3) Tu sabes que tem duas escolhas. Se tu escolheres uma má esposa,
terás de enfrentar aborrecimentos. Se não aceitares enfrentá-los, serás
culpado de adultério por te divorciares dela. Se tivesses investigado as
leis do Senhor e as conhecesse bem antes de te casares, terias tomado
muito cuidado e escolhido uma esposa decente e compatível com teu
carácter desde o início. Se te tivesses casado com uma esposa assim,
terias ganho não apenas o bem de não te divorciares dela como o
benefício de amá-la intensamente, conforme Paulo ordenou. Pois quando
ele diz: “Maridos, amem vossas esposas“, ele não para por aí, mas fornece a medida deste amor, “como Cristo amou a Igreja“.
4) Vejamos, porém, se a beleza e a virtude da alma da noiva atraiu o
Noivo. Não, ela não era atraente nem pura, conforme estas palavras de
Paulo: Ele se entregou por ela para a santificar, purificando-a com a
lavagem da água (Efésios 5,25-26). […] Apesar disso, Ele não abominou a
sua feiúra, mas neutralizou sua repulsividade, remoldando-a,
reformando-a e remindo os seus pecados. Tu deves imitá-Lo. Mesmo que a
tua esposa peque contra ti mais vezes do que possas contar, tu deves
perdoá-la em tudo.
5) Quando surge uma infecção nos nossos corpos, não cortamos o
membro, mas tentamos curar a doença. Devemos fazer o mesmo com uma
esposa.
6) Mesmo que ela não apresente melhoras em função dos nossos
ensinamentos, ainda assim receberemos uma grande recompensa de Deus pela
nossa paciência e por termos mostrado tanto auto-domínio em temor a
Ele. Nós conseguimos suportar as maldades dela com nobreza, sem cortar o
membro fora. Pois uma esposa é como se fosse um membro nosso, e por
causa disso devemos amá-la. É precisamente isto que ensina Paulo: Assim
devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios
corpos…Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e
sustenta, como também o Cristo à Igreja; porque somos membros do Seu
corpo, da Sua carne, e dos Seus ossos (Efésios 5,28-30).
7) Devemos amar a nossa esposa também porque Deus estabeleceu uma lei
a esse respeito quando disse: Por isso deixará o homem seu pai e sua
mãe, e se unirá a sua mulher; e serão os dois numa carne (Génesis 2,24;
Efésios 5,31).
8) Assim como o noivo deixa a casa de seu pai e junta-se à noiva,
assim também Cristo deixou o trono de Seu Pai e juntou-se à Sua noiva.
9) De maneira geral, a vida é composta de duas esferas de actividade:
a pública e a privada. Quando Deus a dividiu assim, Ele designou a
administração da vida doméstica à mulher, mas ao homem designou todas as
tarefas relativas à cidade, às questões comerciais, judiciais,
políticas, militares e assim por diante. […] De facto, o que quer que o
marido pense sobre questões domésticas, a esposa o saberá melhor que
ele. Ela é incapaz de administrar as questões públicas competentemente,
mas ela é capaz de cuidar bem dos filhos, que é o maior dos tesouros.
[…] Se Deus tivesse dotado o homem para administrar ambas as esferas de
actividade, teria sido fácil aos homens dispensar o género feminino. […]
Por isso Deus não concedeu ambas as esferas a um sexo, para que
nenhum deles pareça supérfluo. Mas Deus não designou ambas as esferas
igualmente a cada sexo, para que a igualdade de honra não engendre rixas
e conflitos. Deus preservou a paz reservando a cada um sua esfera
adequada. Ele dividiu nossas vidas em duas partes, e deu a mais
necessária e importante ao homem e a parte menor e inferior à mulher.
Assim, Ele organizou a vida de maneira a que admirássemos mais o homem
do que a mulher, pois os seus serviços são mais necessários do que os
dela, e para que a mulher tivesse uma forma mais humilde e, assim, não
se rebelasse contra o marido.
10) Assim sendo, eis o que tu deves buscar em uma esposa: virtude de
alma e nobreza de caráter, para que desfrutes de tranquilidade, para que
luxuries em harmonia e amor duradouro.
11) O homem que se casa com uma mulher rica casa-se com um chefe, e
não com uma esposa. Porém, o homem que se casa com uma esposa em iguais
condições ou mais pobre se casa com uma ajudante e aliada, trazendo
inúmeras bênçãos para dentro de casa. A sua pobreza força-a a cuidar do
seu marido com muito cuidado, obedecendo-lhe em tudo. […] Portanto, o
dinheiro é inútil quando se trata de encontrar um parceiro de boa alma.
12) Assim sendo, deixemos de lado as riquezas da esposa, mas
examinenos o seu caráter e a sua piedade e recato. A esposa recatada,
gentil e moderada, mesmo que seja pobre, irá transformar a pobreza em
algo muito melhor do que a riqueza.
13) Antes de mais nada, tu deves aprender qual o propósito do
casamento, e por que ele foi introduzido em nossas vidas. Não te
perguntes mais nada. Qual seria, então, o objectivo do casamento, e por
que Deus o criou? Ouve o que Paulo diz: Mas, por causa da tentação à
imoralidade, cada um tenha a sua própria mulher (I Coríntios 7,2). […]
Portanto, não despreza o maior nem busca o menor. A riqueza é muitíssimo
inferior ao recato. É somente por este motivo que devemos buscar uma
esposa: para evitarmos o pecado, para nos libertarmos de toda
imoralidade.
14) A beleza do corpo, se não estiver aliada à virtude da alma, será
capaz de atrair o marido somente por uns vinte ou trinta dias, mas não
conseguirá ir além disto antes que a perversidade da esposa destrua toda
sua atractividade. Quanto àquelas que irradiam beleza de alma, quanto
mais o tempo passa e sua nobreza se evidencia, tanto mais aquecido será o
amor do marido e tanto mais ele sentirá afeição por ela.
15) É por meio do recato que o marido conseguirá atrair à sua família
a boa vontade e a protecção de Deus. É assim que os homens de bem dos
velhos tempos se casavam: buscando nobreza de alma em vez de riqueza
monetária.
16) Quando te decidires por uma esposa, não corras atrás de ajuda
humana. Volta-te para Deus, pois Ele não se envergonhará de ser vosso
casamenteiro. Foi Ele mesmo quem prometeu: Buscai primeiro o Reino de
Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mateus 6,33). Não te
perguntes: “Como posso ver a Deus? Afinal, Ele não falará nem
conversará comigo de maneira explícita, e portanto não conseguirei Lhe
fazer perguntas”. Estas são palavras de uma alma de pouca fé. Deus pode
facilmente organizar tudo da maneira que Ele quiser, sem o uso da voz.
17) A castidade é algo maravilhoso, mas é mais maravilhoso ainda
quando está aliada à beleza física. As Escrituras falam-nos sobre José e
a sua castidade, mas antes mencionam a beleza de seu corpo: José era
formoso de porte, e de semblante (Gênesis 39,6). Em seguida, as
Escrituras versam sobre sua castidade, deixando claro, assim, que a
beleza não levou José à licenciosidade. Pois nem sempre a beleza causa
imoralidade ou a feiura causa recato. Muitas mulheres que resplandecem
em beleza física resplandecem ainda mais em recato. Outras que são feias
em aparência são ainda mais feias de alma, manchada por inúmeras
imoralidades. Não é a natureza do corpo mas a inclinação da alma que
produz recato ou imoralidade.
Comentários
Enviar um comentário