Cruzamos os braços. Pousamos
as espadas que nos fazem ir à luta e sossegamos. Rendemo-nos. Abraçamos
os dias por obrigação e damos casa à preguiça. Fazemos-lhe um jantar
confortável e confortamo-la. Descansamos à sombra de conquistas antigas e
contentamo-nos com o que vier e com o que houver. Fechamos as mãos.
Adiamos os momentos bons que prometemos arrancar à vida. Fechamos os
olhos. A quem passa. A quem fica. A quem não tem nada. A quem tem tudo
mas continua triste. A quem nos segurou a porta e nos deu a gentileza do
dia. A quem partilha connosco os dias e as horas. A quem vemos dia sim,
dia não. Vestimos a mesma roupa de viver todos os dias. Repetimos os
gestos como quem lhes perdeu o rasto. Baixamos a cabeça como quem anda à
procura de razões para se levantar. Aumentamos o volume do rádio e
perdemo-nos nas palavras de quem não nos conhece. Abrimos as janelas
poucas vezes. Por causa do ar condicionado. Ou porque nos condicionámos a
um ar rarefeito e entristecido. Mesmo quando faz sol. Já não faz sol
porque já não queremos saber. Rendemo-nos. Ao que esperam de nós. Ao que
deixámos de esperar. Já não queremos saber. Chuva ou sol. Doce ou
salgado. Céu azul ou tormenta. Paz ou guerra. Dor ou alegria. Dança ou
inércia. Cheio ou vazio. Louco ou tranquilo. Sonho ou realidade.
Verdadeiro ou falso. Bonito ou feio. Bom ou mau. Pouco interessa. Pouco
importa. A pouco sabe. É a pouco que nos sabe a vida quando, perante o
que nos acontece, a resposta é sempre a mesma: Já não quero saber.
Quem nos terá ensinado a não querer
saber? Ninguém. Nós é que fomos obrigados a abandonar o recinto antes do
combate acabar. Desistimos de insistir no que não muda nem passa. Ainda
assim, vale a pena querer cheio. Querer sol. Querer tranquilidade.
Querer paz. Querer alegria. Querer doce. Querer bonito. Querer o bom.
Querer o Bem. Querer bem.
“Já não quero saber” é virar as costas
ao que está para vir. E de costas voltadas não se vê o caminho. Lá à
frente. Onde o trilho continua. Continuamos. Porque (ainda) queremos
saber.
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