A ilusão de estarmos à distância de dois toques com a ponta do dedo pode criar a ideia de estarmos próximos... Não, não estamos.
Já quase ninguém se obriga a preparar com cuidado o que vai dizer. Um encontro, um diálogo ao telefone ou uma mensagem escrita merecem cada vez menos atenção ao detalhe. O discernimento e o acerto dependem muito mais da qualidade do que da quantidade das palavras.
Sentimos a obrigação de comunicar tanto
que acabamos por não nos preocupar em dizer tudo, de forma completa,
cuidada e ponderada, tal como devia ser. Julgamos, mal, que teremos
sempre mais e mais oportunidades.
Se hoje me esqueci de dizer algo, julgo
que não terei dificuldade em dizê-lo depois. E esquecemo-nos sempre de
coisas... a maior parte das vezes, das mais importantes.
Falamos tanto, e de forma tão
despreocupada, que nos desvalorizamos a nós mesmos por não sermos
capazes da verdade que os outros precisam – e que nós merecemos.
Comunica-se muito, mas cada vez há mais confusões, equívocos e discórdias. As palavras servem para nos desentendermos.
Pessoas diferentes falam idiomas
diferentes. As mesmas palavras têm significados, pesos e valores
diferentes, por vezes até para uma mesma pessoa em tempos e espaços
distintos... até há quem mude de referências de um momento para o outro.
Com uma comunicação tão volumosa, flexível e constante, cada palavra perde sentido face ao todo.
O silêncio é hoje, mais do que nunca, um
valor absoluto, pela paz de que é capaz. O silêncio pode ser uma arma
que isola e sufoca, mas também é só no silêncio que se diz a verdade e
se pode ser feliz.
… e é ao silêncio que cabe sempre a última palavra…
IMISSIO
Ilustração de Carlos Ribeiro
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