Não há famílias
perfeitas.
É uma frase na
negativa, mas não é uma afirmação negativista.
A primeira ideia
que deve afirmar-se como essencialmente positiva é a existência de FAMÍLIA.
Esta é, e deve ser, a primeira aspiração do ser humano, do ser homem e ser
mulher, o “ser família”.
Depois,
constatamos que não há, individualmente, homens ou mulheres perfeitos.
Costuma dizer-se
usualmente: ninguém é perfeito.
Logo, quando se
juntam, pelo amor, duas imperfeições, não quer dizer que o resultado vai ser a
obtenção da perfeição, mas um todo, também ele, imperfeito, à busca do
aperfeiçoamento.
A afirmação de
que não há famílias perfeitas não deve ser motivo de conformismo, desânimo, ou
mesmo desculpa para as nossas fraquezas ou limitações.
Deve, antes, ser
fonte de estímulo e de conforto no crescimento e amadurecimento contínuos das
relações amorosas, conjugais e familiares.
E porque não há
famílias perfeitas?
Por vezes,
idealiza-se o amor idílico, fantasioso, só feito de ternura e facilidades, bem-estar
material, satisfação psico-sensitiva, só com tonalidades harmoniosas e de
sucessos.
Quando se parte
para a vida com tais expectativas, repara-se, depois, que não é bem assim.
Na vida familiar
real, há diferenças de humor, de gostos, de opiniões, de dons. Nem sempre
estamos de boa saúde, enérgicos, alegres, cooperantes, tolerantes.
Em todos os
tempos houve condicionantes à vida familiar, mas nos tempos modernos assistimos
a uma sociedade que nos distrai e convida ao individualismo e consumismo, ao narcisismo,
o que leva a afastarmo-nos da partilha do nosso ser e do nosso ter.
A exigência da
vida familiar é uma exigência tão natural, como natural é constituir família. E
esta exigência assusta, por vezes, muita gente, ou apanha desprevenidos os que
não se prepararam para a constituir, particularmente aqueles a quem a
propaganda da “família fantasiosa” contagiou.
Homem e mulher
são incompletos, imperfeitos, incorrendo na necessidade de amarem e serem
amados.
A vida
partilhada significa dar e receber, sem contabilizar o que se dá ou recebe, no
são princípio de “dar sem perder; adquirir sem tirar”.
Um sabe fazer
umas coisas, o outro sabe fazer outras. Ambos fazem coisas idênticas.
É preciso saber
ocupar o mesmo espaço e arranjar tempo para os dois, e para a família
crescente.
Nesta gestão do
mesmo espaço e do mesmo tampo, é importante não só fazer as coisas ordinárias
da vida, mas criar coisas novas, sair da monotonia.
Uma das grandes
criações do casal é a geração dos filhos. Sublime força do amor, encantamento
da família, são também, tantas vezes, fonte de preocupações, conflitos,
desencanto.
E há os
contratempos:
O trabalho não
corre bem. O corpo está fatigado. O corpo está dentro do lar, mas a mente está
fora. O olhar está perto e tão distante. A vontade de ajudar está fraca. O
cozinhado não está apetecível. Não se pode gozar deste ou daquele prazer. O
filho chora, faz birra, não aceita admoestações ou ordens.
Pode-se ouvir
dizer: “foi para isto que eu casei?”
Por tudo o que
sabemos das experiências de vida, é sempre possível ouvir:
“ Não, não foi para isto, mas é, por isto, que
me mantenho casado, porque cultivo o que me levou ao casamento: o amor conjugal
e familiar que opera nas horas boas e más “
É, assim, tão
exigente viver em família? É.
Mas, de tão
natural que é a sua origem, não deveria ser uma realidade complicada ou para
complicar a vida do homem e da mulher, e, por isso, as suas exigências não
deveriam constituir um entrave à constituição de família, ou motivo para a
desfazer quando as expectativas saem algo diversas do imaginado, porque a vida
é, também, risco e imprevisto, e sobretudo, é feita de alegrias e tristezas, de
saúde e de doença.
O sentimento de
pertença subjacente à contracção do matrimónio, além do amor que o fundamenta,
leva à celebração pública dessa comunhão, formando um lar juridicamente
reconhecido e religiosamente celebrado para quem o dom da fé preenche a sua
vida.
Teologicamente
falando, o sacramento do Matrimónio Cristão significa que o amor de Jesus, com
que nos amou até à morte, circula no amor dos cônjuges e transforma-os.
Por isso, se
apela (a Igreja e não só) a não deixar cair os vínculos, os compromissos,
lutando contra as adversidades do quotidiano da vida, que decorre na
imperfeição, tentando ajudar o outro, e a si próprio, a tornar a vida mais
conseguida, mais humana, mais perfeita.
É importante
perceber e transmitir a ideia de que o vínculo civil ou sacramental, encerra
compromissos que não devem ser tomados como conjunto de proibições ou
impedimentos na vida, mas uma vez assumidos em liberdade, são forma de nos
libertarmos da prisão dos egoísmos e são abertura à vida, não só geracional,
mas também de realização pessoal com o “outro” e através do “outro”.
Nem sempre se
conseguem superar as crises. Então, surgem mudanças de rumo, outra forma de
vida pessoal ou em comum, outras reconstituições de família que partem para um
novo projecto, vivido com as mesmas imperfeições humanas, mas com a legítima
aspiração de ser feliz e a imperiosa obrigação de tornar felizes aqueles que
lhe estão ao cuidado.
A FAMÍLIA É O
FUTURO DA HUMANIDADE, logo cuidemos bem deste património insubstituível.
Manuel Leite
Equipa de
Pastoral Familiar de Sto. Adrião, VNF
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