As refeições são
para ser desfrutadas em família e a convivência tem obrigatoriamente que fazer
parte dessa rotina. É preciso que haja um diálogo, uma partilha real de
conversas, interesses, pontos de concórdia e também de discórdia
Do ponto de vista
histórico, as refeições sempre foram um momento de partilha e de convivência,
mas hoje em dia parece que esse significado se “evaporou”. Não percebo muito
bem o porquê de isso ter acontecido, mas de uma coisa não tenho dúvidas: só
depende de nós voltar a recuperar o que se foi perdendo!
A alimentação das
crianças é uma das maiores preocupações dos pais desde o seu nascimento. Numa
primeira fase, todos os cuidados se orientam no sentido de garantir que os
bebés mamam a quantidade de leite que necessitam, para que possam crescer e
desenvolver-se da melhor forma possível. Com o passar do tempo, chega
finalmente a altura de introduzir novos alimentos (por volta dos seis meses de
idade) e, nessa altura, as preocupações passam a ser maioritariamente duas:
1 – garantir que o
bebé continua a comer a quantidade adequada
2 – tentar variar os
sabores dos alimentos para que se habitue a “comer de tudo”
Sem dúvida que estes
são aspectos importantes a considerar mas, na minha opinião, esta é a altura
ideal para aproveitar também para transmitir outros conceitos que nem sempre
estão tão presentes. E tudo se prendo com o que é, de facto, comer. Isto é fundamental,
porque se é verdade que comer é sabor, é verdade também que é igualmente cor,
textura e socialização. Nós, adultos, não podemos nunca esquecer-nos disso e
muito menos podemos deixar de passar esta informação valiosíssima aos nossos
filhos. Relativamente à cor e textura, penso que é um assunto que pode ficar
para um texto futuro, mas gostava de me debruçar hoje um pouco sobre a vertente
“social” da alimentação.
Sei que haverá quem
não concorde, mas ter a televisão, tablet ou telemóvel ligada no momento da
refeição é um contra-senso. Isto é válido para crianças e, claro, mais ainda se
estivermos a falar de adultos (pois são os modelos a seguir)! A presença de
qualquer um destes ecrãs é um elemento claramente perturbador da convivência
entre pessoas, o que os torna elementos a abolir desses momentos. Pessoalmente,
considero “chocante” o cenário que se vê hoje em dia nos restaurantes um pouco
por todo o lado: famílias juntas fisicamente, mas completamente separadas pelas
novas tecnologias. Não é invulgar ver o pai ao telefone, a mãe a ver televisão
e os filhos, perdidos, entregues aos tablets para poderem “estar quietos”. Por
vezes passa-se a refeição toda sem uma única conversa e, de repente, o momento
em família esvai-se completamente. Confesso que é algo que me deixa
profundamente incomodado, mas o pior é que isto é apenas um pequeno reflexo do
que se passa em casa, ou melhor, em tantas casas das nossas crianças.
Outro aspecto
importante a considerar é o facto de que se a criança estiver demasiado distraída
nem se apercebe bem do que está a comer, o que não ajuda nada a construir
hábitos alimentares saudáveis. Compreendo que algumas crianças serão mais
difíceis para alimentar, mas enganá-las não é (nem pode ser) a solução. De
qualquer forma, este problema tem que ser encarado deste modo logo desde o
início, pois se não for assim e o hábito de comer com distracções já estiver
instalado, torna-se muito mais difícil voltar atrás.
Por fim, gostaria de
reflectir também sobre a falta de tempo que dedicamos às refeições. Obviamente
que não é preciso demorar horas, mas também não é, de todo, desejável que elas
sejam sempre feitas num clima de pressa e “correria”. Frases do tipo come
depressa senão ficas de castigo são extremamente frequentes e, apesar de nalgumas
situações poderem ser aceitáveis, elas devem claramente ser mais a excepção do
que a regra, o que nem sempre se verifica.
Assim, as refeições
são para ser desfrutadas em família e a convivência tem obrigatoriamente que
fazer parte dessa rotina. É preciso que haja um diálogo, uma partilha real de
conversas, interesses, pontos de concórdia e também de discórdia, até porque
muitas vezes (infelizmente) esse é o único momento que os pais têm
verdadeiramente para dedicar aos filhos. E é muito triste ver como eles se
sucedem sem ser aproveitados…
É certo que o
relógio não para, mas nós podemos e devemos dar um bom uso ao tempo de que
dispomos, seja muito ou pouco. As refeições são uma parte importante do nosso
dia-a-dia e achar que representam apenas uma necessidade biológica de alimentar
o corpo é extremamente reducionista e até “criminoso”. Devem sempre ser
encaradas como uma parte fundamental e especial do nosso dia-a-adia, pois só
dessa forma é que as crianças vão aprender a respeitar adequadamente esses momentos.
Todos nós merecemos isso e os nossos filhos ainda mais!
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