Arcebispo Primaz
escreveu Mensagem para a Solenidade de Todos os Santos e pediu que o dia seja
de oração, reflexão e serena alegria.
O prelado começou por explicar que, para além do
tempo, também a eternidade não pertence à humanidade. Mesmo que sejam dois
termos que à partida parecem excluir-se, estão, no entanto “profundamente
ligados na fé cristã”, já que a incarnação de Cristo e a Sua presença convidam
a humanidade a transgredir os limites impostos pela temporalidade que
conhecemos como humana.
“A cultura industrial e tecnológica criou, na nossa
sociedade, uma nova percepção do tempo. O tempo é um bem precioso, mensurável e
controlável. «Lembra-te que o tempo é dinheiro», disse Benjamin Franklin a um
jovem empresário do século XVIII. Cada minuto, cada segundo, conta e deve ser
rentabilizado. Penso, todavia, que esta concepção do tempo destrói por completo
a nobreza do espírito humano”, explicou D. Jorge Ortiga, salientando que a
referida nobreza assenta no ser em vez do ter.
O Arcebispo manifestou-se ainda preocupado com o
encarar da morte como o “final da jornada”, já que desta forma se perde o
sentido da “transcendência, da escatologia, da ressurreição” e a “certeza que
Cristo continua vivo”. Neste sentido, apontou a importância de a catequese, as
escolas e os grupos de reflexão ajudarem a esclarecer o sentido cristão do
tempo.
“Exorto ainda a que, neste dia, seja lida e
estudada a Instrução Ad resurgendum cum Cristo. Este documento esclarece a
doutrina católica sobre a cremação. «Em si mesma [a cremação] não é contrária à
religião cristã», mas a «Igreja recomenda insistentemente que os corpos dos
defuntos sejam sepultados no cemitério ou num lugar sagrado». Pede-se ainda,
neste documento, o respeito pelas cinzas, evitando que as mesmas sejam
dispersas «no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar», ou
mesmo conversadas em «peças de joalharia ou em outros objetos». Creio que,
antes de mais, é um sinal de respeito pelo corpo humano, epifania da nossa
existência e das nossas relações interpessoais. O corpo, na lógica cristã, é a
fonte de relação, memória da nossa presença na Terra e parte integrante da
nossa existência. Acreditamos, por isso, na «ressurreição dos mortos e a vida
no mundo que há-de vir». Acreditamos, como nos diz Paulo, que Cristo
«transfigurará o nosso pobre corpo, conformando-o ao seu corpo glorioso»”,
pediu.
O prelado terminou a mensagem com a esperança de
que a Solenidade de Todos os Santos seja uma oportunidade para refletir
cristãmente sobre a morte, o sentido do tempo e a nobreza do corpo. “É um dia
de silêncio respeitoso, de estar com a família, de nos lembrarmos dos nossos
amigos e familiares já falecidos. É um dia de oração na comunhão dos santos.
Mas é também um dia de serena alegria porque Cristo venceu a morte”, concluiu.
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