Perguntei-lhes se alguma vez tinham
pensado em casar-se. Olharam para mim admirados. Então ele, com um sorriso de
quem perdoa uma pergunta tão ingénua, tomou a iniciativa de responder.
«Casar-se? Para quê? Já nos amamos e isso é o importante. Que sentido tem uma
cerimónia exterior que não acrescentará nada ao nosso amor? Queremos um amor
genuíno! Queremos um amor livre! Queremos um amor sem nenhum tipo de coacção!
Este modo de actuar parece-nos muito mais sincero. Não necessitamos de nenhum
tipo de ataduras. Ataduras que cortariam as asas da nossa liberdade». Ela
concordava com a cabeça. Todo o raciocínio do namorado parecia lógico. Estava
de acordo com ele. Não havia fissuras na sua argumentação.
À primeira vista, parece que o casamento
significa uma perda de liberdade. Se uma pessoa decide casar-se, perde a
capacidade de voltar a fazê-lo no futuro. Se a liberdade se entende somente
como capacidade de escolha, sem dúvida que o casamento significa a perda dessa
capacidade. Mas será que a liberdade é somente isso?
Hoje em dia, o casamento é muitas
vezes visto como uma realidade oficial, formal e sem muito valor. Um
convencionalismo antiquado. Uma instituição que “acorrenta” com elementos
objectivos e escravizantes uma relação subjectiva e livre. A liberdade fica
“atada”. A liberdade fica “obrigada” no futuro. Não parece sensato introduzir
elementos “coactivos” numa relação livre. Introduzir elementos objectivos numa
relação subjectiva.
É uma visão simplista. Assim como a
noz não é somente a sua casca, o casamento não é somente a sua cerimónia
exterior. O casamento é um vínculo que se cria a partir da livre vontade
daqueles que se casam. O “sim” que pronunciam transforma-os. É um “sim” que
compromete. A partir desse “sim”, o futuro fica determinado pelo “tu”. Quem ama
de verdade não deseja ser nem viver sem aquele que ama. Não deseja um futuro
sem o outro. Seria um futuro sem sentido. Sem sentido também para a liberdade
do “eu”.
Quem ama de verdade deseja a fusão.
Deseja um “nós” em lugar do “eu” e do “tu”. Deseja o compromisso que é o que dá
origem ao “nós”. Um compromisso que não somente não tira a liberdade, mas
liberta. Liberta o “nós” dos perigos do egoísmo e do orgulho. A eternidade no
amor não pode vir da mera atracção mútua. Nem do simples enamoramento afectivo.
Nem dos sentimentos românticos, por muito sinceros que eles sejam. A eternidade
no amor só pode vir da liberdade que não teme comprometer-se sem condições.
Por isso, “juntar-se” não é a mesma
coisa que casar-se. “Juntar-se” não muda o “eu”. Só muda as circunstâncias em
que o “eu” vive. Pelo contrário, casar-se (comprometer-se de verdade),
transforma o “eu”. Surge o “nós”. Um “nós” que será capaz de gerar vida e que
cuidará dessa vida. Um “nós” que resistirá às intempéries, porque está
protegido pela liberdade responsável daqueles que se amam de verdade.
Pe.
Rodrigo Lynce de Fari
in http://spedeus.blogspot.pt/2016/01/casar-se-ou-juntar-se.html
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