PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro, Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2014
A celebração
do Natal, que se aproxima, enche de luz o dom e o mistério da família. Na
verdade, a encarnação do Filho de Deus marca um novo início na história
universal do homem e da mulher. E este novo início teve lugar no seio duma
família, em Nazaré. Deus escolheu nascer numa família humana, que Ele mesmo
formou numa localidade insignificante, e até pouco considerada, da periferia do
Império Romano. Foi precisamente de lá que começou a história mais santa e
abençoada: a história de Jesus entre os homens. E cada família cristã – como
fizeram Maria e José – pode acolher Jesus, ouvi-Lo, falar com Ele, guardá-Lo,
protegê-Lo, conversar com Ele; e, deste modo, melhorar o mundo. Demos espaço ao
Senhor no nosso coração e no nosso dia-a-dia! Assim fizeram Maria e José. E não
foi fácil… Quantas dificuldades tiveram de superar! A família de Nazaré é uma
família real, uma família normal; contemplando-a, descobrimos a vocação e a
missão da família, de cada família. Como aconteceu naqueles trinta anos de vida
oculta de Jesus em Nazaré, assim pode suceder connosco: fazer com que se torne
normal o amor e não o ódio, fazer com que se torne comum a ajuda recíproca e
não a indiferença nem a inimizade. Não é por acaso que a palavra “Nazaré”
significa «Aquela que guarda»; e o mesmo se diz de Maria: «Ela guardava todas
estas coisas no seu coração». Desde então, todas as vezes que há uma família
que guarda no coração este mistério da vocação e missão da família, ainda que
seja na periferia do mundo, está a realizar-se o mistério do Filho de Deus. E
Ele vem para salvar o mundo.
Locutor: Queridos
peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! De coração vos saúdo a todos,
confiando ao bom Deus a vossa vida e a dos vossos familiares. Muito obrigado
pelos votos formulados pelo meu aniversário e para as próximas Festas
Natalícias, que retribuo desejando-vos um Santo Natal e um Ano Novo repleto das
bênçãos do Deus Menino.
Texto integral da Audiência
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O Sínodo dos
Bispos sobre família, celebrado há pouco, foi a primeira etapa de um caminho
que se concluirá em outubro próximo com a celebração de uma outra Assembleia
sobre o tema: “Vocação e missão da família na Igreja e no mundo”. A oração e a
reflexão que devem acompanhar este caminho envolvem todo o Povo de Deus.
Gostaria que também as meditações habituais das audiências de quarta-feira se
inserissem neste caminho comum. Desejei, por isso, refletir com vocês, nesse
ano, justamente sobre família, sobre este grande dom que o Senhor deu ao mundo
desde o princípio, quando conferiu a Adão e Eva a missão de se multiplicar e
encher a terra (cfr Gen 1, 28). Aquele dom que Jesus confirmou e selou no seu
Evangelho.
A proximidade do
Natal acende sobre este mistério uma grande luz. A encarnação do Filho de Deus
abre um novo início na história universal do homem e da mulher. E este novo
início acontece no seio de uma família, em Nazaré. Jesus nasce em uma família. Ele
podia vir espetacularmente, ou como um guerreiro, um imperador… Não, não: vem
como um filho de família, em uma família. Isto é importante: olhar no presépio
esta cena tão bela.
Deus escolheu
nascer em uma família humana, que formou Ele mesmo. Ele formou em uma vila
remota da periferia do Império Romano. Não em Roma, que era a capital do
Império, não em uma grande cidade, mas em uma periferia quase invisível,
bastante mal falada. Recordam-no também os Evangelhos, quase como um modo de
dizer: “De Nazaré pode vir alguma coisa de bom?” (Jo 1, 46). Talvez, em muitas
partes do mundo, nós mesmos ainda falamos assim, quando ouvimos o nome de
qualquer lugar periférico de uma grande cidade. Bem, justamente dali, daquela
periferia do grande Império, começou a história mais santa e melhor, aquela de
Jesus entre os homens! E ali se encontrava esta família.
Jesus permaneceu
naquela periferia por trinta anos. O Evangelista Lucas resume este período
assim: Jesus “era seu submisso [isso é, a Maria e José]. E alguém poderia
dizer: “Mas este Deus que vem nos salvar, perdeu 30 anos ali, naquela periferia
mal falada?”. Perdeu 30 anos! Ele quis isso. O caminho de Jesus era naquela
família. “A mãe protegia no seu coração todas as coisas e Jesus crescia em
sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens” (2, 51-52).
Não se fala de milagres ou curas, de pregações – não fez nenhuma naquele tempo
– de multidões que se reúnem; em Nazaré, tudo parecia acontecer “normalmente”,
segundo os costumes de uma piedosa e trabalhadora família israelita:
trabalhava-se, a mãe cozinhava, fazia todas as coisas da casa, esticava as
camisas… todas as coisas da mãe. O pai, carpinteiro, trabalhava, ensinava o
filho a trabalhar. Trinta anos. “Mas que desperdício, padre!”. Os caminhos de Deus
são misteriosos. Mas aquilo que era importante ali era a família! E isto não
era um desperdício! Eram grandes santos: Maria, a mulher mais santa, imaculada,
e José, o homem mais justo… A família”.
Ficaríamos
certamente comovidos com a história de como Jesus adolescente enfrentava os
compromissos da comunidade religiosa e os deveres da vida social; em conhecer
como, de jovem trabalhador, trabalhava com José; e depois o seu modo de
participar da escuta das Escrituras, da oração dos salmos e em tantos outros
costumes da vida cotidiana. Os Evangelhos, em sua sobriedade, não referem nada
sobre a adolescência de Jesus e deixam esta tarefa à nossa afetuosa meditação.
A arte, a literatura, a música percorreram este caminho da imaginação. De
certo, não é difícil imaginar quanto as mães poderiam aprender com a atenção de
Maria por aquele Filho! E quanto os pais poderiam derivar do exemplo de José,
homem justo, que dedicou a sua vida a apoiar e defender o menino e a esposa – a
sua família – nas passagens difíceis! Para não dizer quanto os jovens poderiam
ser encorajados por Jesus adolescente a compreender a necessidade e a beleza de
cultivar a sua vocação mais profunda, e de sonhar grande! E Jesus cultivou
naqueles trinta anos a sua vocação para a qual o Pai O enviou. E Jesus nunca,
naquele tempo, se desencorajou, mas cresceu em coragem para seguir adiante com
a sua missão.
Cada família
cristã – como fizeram Maria e José – pode antes de tudo acolher Jesus,
escutá-Lo, falar com Ele, protegê-Lo, crescer com Ele; e assim melhorar o
mundo. Demos espaço no nosso coração e no nosso dia a dia ao Senhor. Assim
fizeram também Maria e José, e não foi fácil: quantas dificuldades tiveram que
superar! Não era uma família falsa, não era uma família irreal. A família de
Nazaré nos empenha a redescobrir a vocação e a missão da família, de cada
família. E como aconteceu naqueles trinta anos em Nazaré, assim pode acontecer
também para nós: fazer tornar normal o amor e não o ódio, fazer tornar comum a
ajuda mútua, não a indiferença ou a inimizade. Não é acaso, então, que “Nazaré”
signifique “Aquela que protege”, como Maria, que – diz o Evangelho – “protegia
no seu coração todas essas coisas” (cfr Lc 2, 19.51). Desde então, cada vez que
há uma família que protege este mistério, mesmo na periferia do mundo, o
mistério do Filho de Deus, o mistério de Jesus que vem nos salvar, está
trabalhando. E vem para salvar o mundo. E esta é a grande missão da família:
dar lugar a Jesus que vem, acolher Jesus na família, na pessoa dos filhos, do
marido, da esposa, dos avós… Jesus está ali. Acolhê-Lo ali, para que cresça
espiritualmente naquela família. Que o Senhor nos dê esta graça nestes últimos
dias antes do Natal. Obrigado.
[Tradução: Jéssica
Marçal / Canção Nova Notícias]
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